Por Laura Dozza Reis e Paty Zupo, para Cobertura Colaborativa #NECParis2024

Zakia Khudadadi, de 25 anos, escreveu mais um capítulo importante na história dos Jogos Paralímpicos. No dia 29 de agosto, a atleta de origem afegã conquistou a medalha de bronze no Para Taekwondo, tornando-se a primeira integrante da Equipe Paralímpica de Refugiados a conquistar uma medalha.

Khudadadi venceu a turca Ekinci Nurcihan na categoria feminina até 47 kg, marcando pontos decisivos nos últimos 60 segundos da luta. Ao ouvir o sinal da campainha no Grand Palais, a atleta celebrou com entusiasmo, jogando seu capacete e protetor bucal ao ar.

Foto: Alexandre Battibugli/IPC

“Foi um momento surreal. Meu coração disparou quando percebi que tinha ganhado o bronze”, disse Khudadadi. “Passei por muitas dificuldades para chegar até aqui. Dedico esta medalha a todas as mulheres do Afeganistão e a todos os refugiados do mundo. Espero que um dia meu país tenha paz.”

Zakia compete na classe K44, destinada a atletas com limitações nos movimentos ou amputações parciais. No caso dela, há uma amputação do cotovelo esquerdo. Ela compensa essas limitações adaptando sua postura para maximizar a força dos chutes.

Da fuga do Talibã ao bronze paralímpico

Khudadadi nasceu com uma malformação no braço e começou a praticar taekwondo em segredo aos 9 anos, em Herat, Afeganistão. Em 2021, após a tomada de poder pelo Talibã, Zakia virou notícia ao pedir ajuda para deixar o país e competir nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Após um esforço internacional, foi evacuada em segurança e pôde representar o Afeganistão em Tóquio 2020. Desde então, ela vive na França.

Em Paris 2024, Zakia competiu pela Equipe Paralímpica de Refugiados. Sua determinação e coragem cativaram o público francês, que aplaudiu entusiasticamente durante suas lutas no Grand Palais.

Foto: Paralympic.org

Desde que fugiu do Afeganistão, Khudadadi treina no INSEP, o instituto nacional de esportes da França, sob a orientação de Haby Niare, ex-campeão mundial de taekwondo.

“Zakia é incrível”, disse Niare ao Paralympic.org. “Ela enfrentou muitos desafios, incluindo lesões, mas nunca desistiu de seu objetivo.”

Defensora dos direitos das mulheres

“Meu principal objetivo ao praticar esportes é inspirar outras meninas, mostrando que elas podem se destacar e que nunca devem ter medo de participar”, afirmou Zakia após sua conquista.

Foto: Arquivo pessoal

O governo do Talibã impõe severas restrições aos direitos das mulheres no Afeganistão, tornando arriscado qualquer tipo de atividade esportiva para elas. Khudadadi compartilhou que, como mulher atleta, desafiando as regras impostas pelo regime, ela só teve uma opção: fugir.

Zakia deseja que sua medalha inspire mulheres afegãs e refugiadas ao redor do mundo. Ela também contou sobre seu compromisso com os direitos das mulheres e a luta contra a discriminação, reforçando que sua trajetória é um símbolo de resistência e superação.

Zakia foi uma das condutoras da tocha olímpica em Tóquio 2020. Para ela, o esporte é uma fonte de luz e esperança, e sua vitória reflete o orgulho de todos que a apoiam.