Por Pâmela Ortiz Xavier

Fui ao Teatro Renault, em São Paulo, para a 8ª edição do Women’s Music Event Awards (WME). 

O evento, que celebra o protagonismo feminino na música, é mais do que uma premiação — é uma declaração de como nós, mulheres cis, trans, lésbicas, bissexuais, negras, pardas, amarelas, indígenas e tantas outras, estamos mudando os rumos da indústria da música, movimentando as estruturas patriarcais em uma área majoritariamente dominada por homens

Por muito tempo passei cobrindo grandes eventos e premiações apenas remotamente, criando peças gráficas dos vencedores, seja em premiações culturais ou esportivas como Grammy, Oscar, Jogos Olímpicos e Copa do Mundo Feminina. Sim, coisas que só a Mídia NINJA proporciona pra gente – um dia você vai tá explanando os absurdos do Bolsonaro, outro dia sobre cultura pop e, em outro, vai acompanhar as melhores atletas dos saltos ornamentais.

Foi minha primeira vez presencialmente em um evento como este. Cobrir aquela noite para a SOM.VC foi muito mais do que uma simples gravação de entrevistas e stories em tempo real, foi uma oportunidade de estar no epicentro de uma transformação que mulheres estão liderando na indústria musical brasileira.

Tudo começou no tapete vermelho, onde duas atmosferas distintas se entrelaçaram. De um lado, jornalistas e criadores de conteúdo, em uma corrida frenética para capturar o momento que ganharia as capas. Do outro, mulheres artistas, produtoras, compositoras e tantas outras, irradiando brilho e presença, com flashes e olhares se voltando para elas a todo instante. No meio disso, as diversas identidades de mulheres demarcavam com força um espaço que é delas, com um protagonismo cada vez mais incontestável.

Eu estava acompanhada de duas mulheres essenciais nesse contexto: Dríade Aguiar e Isis Maria, editoras e fundadoras da Mídia NINJA, Planeta ELLA e Poderes Pretos. Enquanto Dríade nos direcionava, eu e Isis fazíamos entrevistas e perguntas para as artistas entrevistadas. Conversamos com nomes importantíssimos como Ajuliacosta, Titi Muller, as criadoras do prêmio Monique e Fátima, Heloa, Zaynara, Foquinha, Melly e Vivi. Muitas destas, vimos serem premiadas ao longo da noite.

Foto: Arquivo Pessoal

Os prêmios refletiram a diversidade e o impacto dessas mulheres. A mulher do ano, podemos dizer que foi Liniker e seu indiscutivelmente maravilhoso CAJU, que desbancou várias produções,  levando o prêmio nas categorias ‘Álbum do Ano’ e ‘Música Mainstream’, mostrando que a arte autoral e com propósito tem seu espaço.

Quem ficou com o prêmio de Revelação foi a princesinha do melody, Zaynara, aos 23 anos, diretamente do Pará para o mundo, ela certamente é um dos nomes que tem ganhado espaço. Como ela mesma diz, é acreditando no nosso sonho que a gente consegue e é assim que ela vem provando que há uma nova geração de artistas que chega com força e autenticidade, principalmente por ser uma artista nortista.Foram muitos momentos emocionantes, ver mulheres negras em um palco como esse, certamente, foi uma das coisas mais emblemáticas da noite.

Ver a baiana Melly vencer o prêmio de ‘Compositora do Ano’ – ela que veio de uma indicação ao Grammy Latino recentemente. Durante nossa conversa, ela reafirmou o quanto a presença dela em eventos como aquele são como doses de autoestima para artistas negras como ela que estão lutando há tantos anos para ganhar espaço no mundo da música. Ver AJULIACOSTA vencer o prêmio de ‘Música Alternativa’ também foi emocionante. É uma artista incrível, manda papos importantíssimos em suas rimas e junto com uma nova geração de mulheres no rap, vem mostrando ao que veio. Vocês ainda vão ouvir falar muito delas.

A noite foi encerrada por uma homenagem profundamente emocionante a Lia de Itamaracá, uma verdadeira lenda da música brasileira. Quando seu nome ecoou no palco, foi impossível não se sentir tocado pela sua trajetória de resistência e beleza. Lia, com sua presença suave e imponente ao mesmo tempo, é a expressão viva de uma cultura rica, carregada de tradição e inovação.

Foto: Mídia NINJA

Sua música, que atravessa gerações, carrega a força do frevo, da ciranda, do maracatu e das raízes nordestinas, sempre com a leveza de quem sabe que a arte é a maior ferramenta de transformação. Ao receber a homenagem, Lia representou todas as mulheres que, como ela, continuam a quebrar barreiras e a marcar a história com seus acordes e suas vozes. Aquele momento foi um tributo à força da música feita por mulheres, à ancestralidade, à memória viva e à celebração da cultura pernambucana que Lia carrega.

Foram tantas vivências importantes. Ver as mulheres sendo celebradas e celebrando umas às outras foi muito bom, porque é só desta maneira que vamos conseguir quebrar as estatísticas e tantos padrões patriarcais. É como Pepita nos disse: “Uma lutar pela outra, defender a outra, independente do que a outra tá fazendo”. Um salve especial para essa maravilhosa, mãe e artista, Pepita, que nós amamos tanto. Que honra. ❤️

Foto: Arquivo Pessoal

Apesar das conquistas, os desafios são evidentes. Dados recentes mostram que mulheres ainda têm uma presença tímida nos direitos autorais e nas tomadas de decisão da indústria. Embora os números estejam melhorando, a estrada para a equidade é longa. Em 2025, será fundamental ver mais mulheres ocupando os espaços de destaque — não apenas nos palcos, mas também nos escritórios, mesas de negociação e estúdios.

Cobrir o WME foi mais do que reportar um evento, foi testemunhar um movimento. Essas mulheres estão moldando a música brasileira, e contar essas histórias é mais do que um trabalho, é um compromisso.

Confira todas as vencedoras: