Na semana passada, as eleições presidenciais nos Estados Unidos terminaram com a vitória do democrata Joe Biden e a derrota do patético republicano Donald Trump (já vai tarde!). O resultado acirrado mostrou um país politicamente rachado, polarizado entre conservadores e “progressistas”, entre direita e “esquerda” – tal e qual o Brasil.

Mas um tema uniu as diferentes correntes de pensamento nas urnas: a Cannabis, que foi a grande vencedora das eleições estadunidenses. Enquanto o mundo esperava a demorada contagem dos votos, mais cinco estados norte-americanos legalizaram a maconha: Nova Jersey, Montana, Arizona, Dakota do Sul e Mississipi.

Com o resultado das eleições, agora um terço da população agora vive em jurisdições de estados que legalizaram a maconha para uso adulto e 70% em locais que já regulamentaram o uso medicinal. Além da erva, também foi votada a descriminalização dos cogumelos mágicos, aprovada no distrito de Washington D.C e no Oregon, que se tornou o primeiro estado a legalizar o uso médico regulamentado da psilocibina.

Enquanto isso, por aqui ainda seguimos batendo a cabeça sobre a legalização da maconha mesmo entre dentro da própria esquerda, como mostrou a repercussão do último texto publicado nesta coluna. O texto questionava o porquê de a esquerda brasileira não abraçar a luta antiproibicionista, que engloba tantas outras pautas sociais urgentes ligadas às lutas sociais, como o genocídio da juventude negra, a violência policial, o domínio do capital estrangeiro e por aí vai.

A carapuça serviu e muitos leitores da Mídia Ninja ficaram irados nas redes sociais, rebatendo a coluna com comentários tão conservadores quanto os direitistas. “Porque tem pautas mais urgentes”, “porque já batem na esquerda e não podemos nos associar a maconheiros”, “porque quem fuma maconha financia o crime organizado”. Um papo tão atrasado que nem os gringos, muitos preconceituosos como são, engolem. Confesso que eu fiquei um pouco horrorizado, me sentindo há 10, 15 anos atrás.

Mas também vi que estamos no caminho certo. Precisamos mesmo fazer provocações desse tipo para que as pessoas ditas progressistas enxerguem seus preconceitos e acordem para as lutas que as cercam. Por isso, insisto: as eleições municipais estão chegando e são muitos os (as) candidatos (as) a vereador (a) que apoiam uma política de drogas mais racional e humana. Procure saber quem são os (as) candidatos (as) canábicos (as) da sua cidade e engrosse o caldo.

A luta contra o conservadorismo e o estado policial passa pelo fim da guerra às drogas e o respeito às liberdades individuais.