Vozes e faces da luta indígena pelo Jaraguá em São Paulo
A Av. Paulista, maior centro econômico da América Latina foi tomada nesta quarta-feira (30). Indígenas do povo Guarani foram ao centro da capital do estado de SP reivindicar o direito à terra do Jaraguá, que perdeu caráter de reserva indígena após o Ministério da Justiça revogar portaria de 2015, que legitimava legalmente a permanência das […]
A Av. Paulista, maior centro econômico da América Latina foi tomada nesta quarta-feira (30). Indígenas do povo Guarani foram ao centro da capital do estado de SP reivindicar o direito à terra do Jaraguá, que perdeu caráter de reserva indígena após o Ministério da Justiça revogar portaria de 2015, que legitimava legalmente a permanência das comunidades na região.
A jornada de lutas começou ainda pela manhã, quando um grupo de indígenas ocupou o Escritório da Presidência da República, no número 2163 da mesma avenida. Dentro do prédio, os ocupados dançaram durante todo do dia. Um cordão de policiais monitorou do lado de fora a ação.
Às 17h, iniciou a concentração para a manifestação do vão do MASP com parte dos ocupados no Escritório da Presidência e centenas de outros vindos de todas as partes da cidade, principalmente do Jaguaré, para fortalecerem a luta.
Por volta das 18h cerca de 1 mil pessoas saíram em marcha pela Av. Paulista fechando a via sentido centro. Aderiram à manifestação movimentos sociais como a Marcha Mundial das Mulheres, Movimento Parque Augusta e o Movimento Sem Teto, além de diversos coletivos.
A marcha foi marcada por um grupo que dançava na linha de frente. Incessante, nem por um minuto eles esmoreceram e parmeneceram até o encerramento do ato em seu ritual. Foi somente às 20h que os grupos se encontraram no Escritório da Presidência.
Vozes e faces
“As nossas lideranças se mobilizaram para organizar os manifestações pela nossa terra. Parte deles foram para Brasília lutar para que deixem as terras da gente. Nós não vamos desocupar até que eles voltem atrás. A gente repudia isso, é um desrespeito com a gente. A terra é o nosso futuro. Somos Guarani, povo da floresta. Poucas áreas sobram para a gente viver de acordo com a nossa cultura e costumes. Nos sentimos humilhados”. Wera Txodoro, indígena do Jaraguá.
“Isso é só mais uma manobra do governo criminoso que atende interesses financeiros no Brasil. Óbvio que o Jaraguá gera visibilidade e interesse de muitas pessoas, e a presença dos indígenas, que são os verdadeiros guardiões daquela terra, legitimada por uma portaria, representa uma ameaça a esses interesses. Isso também prova que o governo brasileiro jamais reconheceu os povos originários”. Carolina Pinzan, artista.
“O nosso direito foi retirado e vamos lutar para trazê-lo de volta. Essa é a nossa cultura e estamos aqui de novo por isso, para que o governo devolva a nossa terra e o nosso sossego. Muitos dos nossos não tem sossego, sem demarcação, com pouco mato e água, sem condições para melhorar a vida”. Leonardo Karai, indígena do Jaguaré.
“É um retrocesso sobre uma vitória legalmente conquistada. Estamos lá há muito mais que 30 anos, mais de 700 pessoas estão nesse comunidade e estão prestes a serem retiradas de suas casas. Eu sou educadora, mas como vou falar para essas famílias sobre saúde e educação sem eles nem mesmo tem seu território? Fica o medo constante. Por isso estamos unidos na luta”. Shirlei Maria Souza, diretora escola infantil do Jaguaré.
“Somos vítimas do governo. Vários governos já nos prometeram a posse da terra, mas sempre que cobramos eles nos viram as costas. Onde vivemos, há oito anos, eles construíram a obra do Rodoanel dividindo a nossa terra, comunidade e família. Além disso, não há uma passarela no raio de 3km, e 5 pessoas morreram atropeladas tentando atravessar. Temos sido continuamente expulsos de nossas casas. Nossas famílias tem crescido, e o espaço está cada vez menor. Hoje é impossível vivermos da nossa produção”. Salvador Índio Kaimbé.
“Que condições essas pessoas tem de vir para a cidade? Me parece que o foco desse governo é a destruição total do povo pobre. Nós já retiramos tantas coisas deles. Nós, que estamos na cidade, temos meios de lutar por isso, mas e eles, quem está por eles? Quem é por eles? Por isso estamos aqui na luta, para ajudá-los. Não basta ficarmos indignados se nada fizermos”. Loira Nigueira, militante do MST.