Vivendo em territórios contaminados: relatório aponta presença de agrotóxicos na água de comunidades rurais
Material apresenta os resultados da “pesquisa-ação” implementada, entre 2021 e 2022, em sete territórios do Cerrado
Por Maria Vitória
A Campanha Nacional em Defesa do Cerrado lançou na terça-feira (30) a publicação “Vivendo em territórios contaminados: Um dossiê sobre agrotóxicos nas águas do Cerrado”. O material apresenta os resultados da “pesquisa-ação” implementada entre 2021 e 2022, em sete territórios do Cerrado, e que realizou análises toxicológicas e ambientais sobre a qualidade das águas em comunidades dessas localidades.
Na maioria dos casos, as amostras de águas coletadas e analisadas pela pesquisa são oriundas de nascentes, córregos e rios que abastecem as comunidades, sendo utilizadas para a irrigação de plantações, consumo animal e, em algumas situações, também para o consumo humano. As comunidades que fizeram parte da pesquisa situam-se nos estados do Tocantins, Goiás, Maranhão, Piauí, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Bahia, em regiões do Cerrado e de zonas de transição com a Amazônia e o Pantanal.
A publicação é uma iniciativa da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A pesquisa em campo contou com o apoio de agentes da CPT de Tocantins, Goiás, Maranhão, Piauí e Mato Grosso do Sul, da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) no Mato Grosso e da Agência 10envolvimento, na Bahia.
Os resultados da investigação foram apresentados durante evento presencial em Brasília. Estiveram presentes na atividade membros das comunidades que participaram da pesquisa, representantes da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, da CPT, da Fiocruz e representantes do sistema de Justiça.
O documento enfatiza a importância do Cerrado para a vida das pessoas, dos animais, das plantas e, principalmente, dos rios, que possuem no bioma seus berços d’àgua. Rios como o Paraguai, Cuiabá, São Lourenço, Taquari, Paraná, Rio Paraíba e São Francisco possuem suas nascentes nas terras do Cerrado, dando sentido ao lema máximo da campanha em defesa desse bioma tão degradado: “Sem Cerrado, Sem água, Sem vida”.
A pesquisa se dedica à compreensão da contaminação das águas nos Cerrados por agrotóxicos com uso autorizado na soja, uma vez que a soja é a cultura que mais ocupa terras no Brasil (52%), além de ser a cultura que mais utiliza agrotóxicos no país, sendo que 60% dos agrotóxicos utilizados em solo brasileiro são utilizados na soja.
Para além do estudo nas comunidades, o relatório também traz a expressão da luta diária travada entre as comunidades tradicionais e os agentes do agronegócio, que utilizam dos agrotóxicos para além de suas culturas, mas também travam uma guerra química, tendo os agrotóxicos como principal arma contra as plantações, casas, escolas e acessos à água nas comunidades. É uma luta que coloca em grande desvantagem famílias que cultivam em suas terras enquanto assistem suas crianças intoxicarem com pulverizações aéreas irregulares.
Sobre os resultados da análise da água, o glifosato foi detectado em todos os estados no qual a pesquisa-ação foi realizada. Essa substância foi proibida pela Autoridade Europeia para Segurança dos Alimentos (EFSA) devido à ausência de evidências suficientes para estabelecer limites de segurança para exposição crônica, mas segue autorizada no Brasil.
Dos oito agrotóxicos identificados e quantificados durante a pesquisa-ação, quatro estão entre os 10 mais comercializados no Brasil em 2021. O glifosato ocupa a primeira posição, sendo seguido do 2,4-D (2a posição), da atrazina (5a posição) e do metolacloro (10° posição).
Leia o relatório completo aqui.