Por Paula Cunha, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

O berço dos Jogos Paralímpicos é a Inglaterra, onde a chama foi acesa, dividida em doze partes. Comecei a me interessar pela Paralimpíada durante a abertura, com Flávia Cintra e Clodoaldo Silva, o comentarista mais bem-humorado que já vi. Bateu uma nostalgia dos jogos em Paris (será que o rio Sena ficou limpo?).

A cerimônia de abertura não foi no estádio, mas na rua, na praça, num fim de tarde colorido: “Nada sobre nós, sem nós”. Os voluntários dançavam lado a lado enquanto os atletas desfilavam, e os trajes das delegações eram diversos, quebrando os padrões dos uniformes esportivos.

No telão e na TV, ouço depoimentos impactantes:

“Você não pode maltratar o seu corpo, você precisa respeitar”.

Muitas pessoas precisavam ouvir isso. A França foi descrita como “o país do amor e da revolução”, e Flávia Cintra completou: “é a cerimônia com o tom mais ativista que já vi”.

E é isso que queremos: enquanto dançarinos com tochas moviam-se ao som do Bolero de Ravel, os atletas passavam a chama de mão em mão (achei bonito, mas perigoso). Quando a pira foi acesa, um balão subiu e a festa terminou com Born to be alive. Tudo alegre e bonito, prenunciando o que estava por vir…

Que comecem os Jogos! A primeira medalha do Brasil foi um ouro na natação com Gabriel Araújo, o Gabrielzinho: “Eu não nadei, eu amassei a prova”. Acho que já fiquei mal acostumada, pois após essa, as medalhas não pararam de chegar.

Fico feliz com as vitórias, mas triste por não poder assistir a todas as competições simultaneamente e, pior ainda, por não poder rever depois. Os atletas são tão bons; por que os jogos não são mais divulgados? Ninguém ganha com esse monopólio… melhor nem falar sobre isso.

Preparei-me para assistir ao vôlei sentado, mas na TV estava passando taekwondo. Ouço: “cada punição é um ponto de graça para o oponente”, e me apaixono de cara por Ana Carolina Moura. Seu técnico grita: “você bate à direita” e a grega tenta empurrá-la o tempo todo! Pode isso?

Ana Carolina vence por 11 a 7: “A deficiência é uma característica”. Em seguida, Claudio Massad e Luiz Manara derrotam a França no tênis de mesa. A alegria deles é imensa, pulam e se abraçam. Claudião diz: “Sempre fui gordinho com uma deficiência na perna, mas sempre acreditei em mim”.

Foto: International Table Tennis Federation 

Nos 5000 metros para cadeirantes, o Brasil não tem a melhor tecnologia para cadeiras de atletismo, mas de repente começamos a ganhar uma medalha de ouro atrás da outra. Nessa sexta, comentaram sobre as bicicletas do ciclismo, feitas do mesmo material que aviões, tornando-as leves.

Mais um bronze no taekwondo. (Eu disse que estou ficando mal acostumada?) “Deixa os outros serem favoritos, a gente vai por fora”. O hino toca toda hora: “Pátria amada, Brasil”.

Petrúcio Ferreira, ouro, diz: “Colecionando medalhas, colecionando histórias”. Parece que não falamos mais em “ganhar medalha”, mas sim “qual vai ser a cor da medalha”.

Os atletas contam como treinam, se dedicam e abdicam de muito na vida. Não vi nenhum pedido de desculpas, só orgulho e reconhecimento. Júlio César, ouro no atletismo, emocionado, diz: “Minha medalha representa a periferia, representa de onde eu saí”. Sinto vontade de abraçá-lo.

Julião bateu o recorde mundial e paralímpico, compartilhando o pódio com Yeltsin Jacques, bronze. As comemorações são lindas e espontâneas, com muito orgulho e muitos abraços. Ana Carolina Moura vai lutar novamente, agora contra uma francesa. Ouço: “A parada é complicada”. Cinco minutos depois: o Brasil é ouro no taekwondo (é muito ouro!).

Na comemoração, Ana Carolina puxa a francesa e, junto com seus técnicos, celebram segurando suas bandeiras e acenando para o público, que aplaude calorosamente. Uma alegria dividida! 

Foto: Alexandre Schneider/CPB

Por enquanto, o Brasil está em terceiro lugar no quadro de medalhas com 5 ouros, 1 prata e 7 bronzes. Quero ficar (bem) mal acostumada!