Violência e assédio: indígenas Guarani Kaiowá estão sob ameaça no MS
Desmonte ambiental promovido no Congresso é sentido na pele pelos Guarani Kaiowá, que sofrem violência ao tentar retomar seu território
Indígenas Guarani Kaiowá têm vivido semanas de terror desde que retomaram seu território em Douradina (MS).
Na noite de sábado (13) para domingo (14) um grupo de indígenas ocupou uma área da Terra Indígena (TI) Panambi-Lagoa Rica, que já foi reconhecida e delimitada, mas está com o processo demarcatório estagnado desde 2011.
A área se sobrepõe a uma fazendo pertencente a Cleto Spessatto, que em 2019, mandou pulverizar veneno sobre a comunidade indígena Guyra Kambi’y.
No primeiro final de semana de retomada indígena, fazendeiros dispararam contra o grupo e o indígena Paulo Aquino, de 56 anos, levou um tiro na perna esquerda, enquanto a nhandesy (rezadora) Sheila Kaiowá, de 63 anos, sofreu ferimentos no braço e no pé.
“Essa é nossa área. Somos indígenas Guarani Kaiowá e há centenas de anos esperamos a demarcação da nossa terra”, afirma uma das lideranças da retomada. “Aqui está cheio de ruralistas. Falam que somos invasores. Não somos invasores. Somos a natureza da terra. Essa aqui é nossa fonte”, destaca.
Mais violência
Na noite desta segunda-feira (22), dezenas de caminhonetes com cerca de 100 fazendeiros acenderam os faróis em direção à TI Panambi-Lagoa Rica, ameaçando um ataque.
A Mídia NINJA teve acesso a um vídeo que mostra a cena da noite de segunda, onde um homem ao lado de caminhonetes diz: “vamos avançar. Todo mundo se organizando aí para o grande conflito”. A coordenadora geral do departamento de mediação e conciliação de conflitos fundiários do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Daniela Alarcon, esteve em Douradina ao longo da semana ao g1 ela explicou:
“Mesmo não sendo concluída a demarcação, as etapas de delimitação e análises das contestações foram superadas, com a publicação do relatório de identificação e delimitação da área, que é uma etapa fundamental. No momento, ações judiciais impedem que o processo termine. Não é uma invasão. O Estado brasileiro já estudou e indicou que esta área é de ocupação tradicional.”
Desmonte Ambiental
Enquanto isso, no Congresso, as tentativas de desmonte dos direitos dos povos indígenas vem surtindo efeito.
“Os direitos dos povos indígenas acabaram sendo negociados nos bastidores de sempre e foram sacrificados cada vez que confrontavam grandes empreendimentos. A demarcação dos territórios indígenas avançou muito pouco; muito aquém do esperado, bem longe do necessário e na contramão do urgente.” diz um trecho do relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil – dados de 2023, publicação anual do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), e que explica as delongas em não demarcar os territórios ancestrais.
“Congresso e agronegócio se empenharam, particularmente, em inverter covardemente a História, colocando os invasores como legítimos proprietários e os verdadeiros donos da terra como aqueles que invadem e afrontam a lei” diz ainda o relatório.
Sobre a situação no MS, o CIMI diz que “apesar das comitivas do MPI, e as tentativas de negociação com proprietários rurais e políticos locais para a interrupção das hostilidades, não houve ainda a presença de um aparato mais sólido do Estado em busca de soluções reais.”
Em mais um capítulo da violência do Estado contra os povos indígenas, a Justiça Federal decidiu pela reintegração de posse da área em favor dos fazendeiros nesta quinta (25). Com a decisão, os 50 indígenas que estavam no local, um sítio de 147 hectares, serão intimados a desocupá-lo em até cinco dias.