Rito de transmutação: velório de Zé Celso tem Teatro Oficina lotado, homenagens e longa salva de palmas
A despedida reflete a forma como Zé Celso viveu sua vida: cercado de amor e espalhando alegria
Em uma emocionante despedida repleta de lágrimas de saudade e uma demonstração de amor, o Teatro Oficina abriu suas portas para se despedir de um dos maiores nomes da cultura brasileira, José Celso Martinez Corrêa. O icônico ator e dramaturgo, carinhosamente conhecido como Zé Celso, faleceu tragicamente aos 86 anos em um incêndio que atingiu seu apartamento localizado no tradicional bairro do Bixiga, em São Paulo.
A despedida reflete a forma como Zé Celso viveu sua vida: cercado de amor e espalhando alegria. Mais cedo, enquanto aguardavam a chegada do corpo do diretor, amigos e atores do Oficina organizaram uma grande procissão pelo palco, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi. O palco revolucionou o conceito de teatro ao ser posicionado no centro, assemelhando-se a um corredor, com a plateia nas laterais, como se estivessem em um ringue de boxe.
“O palco no ringue é uma metáfora da luta”, disse Zé Celso sobre a premiada arquitetura do teatro.
As homenagens se estenderam para a rua em frente ao teatro. Cantos de “Bixiga hoje só tem arranha-céu. Não se vê mais a luz da lua. Mas a Vai-Vai está firme no pedaço. É tradição e o samba continua” ecoaram pelo ar.
O ponto alto da homenagem foi atingido quando escreveram no chão da rua a frase “Zé Celso Vive!”. Inúmeras flores também foram enviadas para celebrar o legado desse grande nome do teatro brasileiro. Uma das coroas de flores presentes foi enviada pelo casal Ana Estela e Fernando Haddad, atual Ministro da Fazenda.
O renomado cantor Otto foi um dos presentes no Teatro Oficina para prestar homenagens ao dramaturgo.
“Zé Celso é uma inspiração, um mestre. O que será do Brasil sem a figura do Zé Celso, sem essa pessoa que há anos e anos está participando, influenciando e mostrando? Estamos aqui no Oficina, que é eterno, um grande legado. Foi uma tragédia, mas o teatro é renovação, é esperança e celebração. Zé Celso sempre celebrou”, expressou Otto.
Otto afirmou que pretende dar continuidade à luta de Zé Celso pela construção do Parque do Bixiga, ao lado do Teatro Oficina, que tem sido alvo de disputa com o apresentador Silvio Santos, proprietário do terreno. Para Otto, o legado de Zé Celso abrange “a arte, a verdade, a democracia, a existência, a celebração da vida e a justiça social”.
Em meio à tristeza avassaladora, o ator Ricardo Bittencourt, que estava com Zé Celso no apartamento durante o incêndio, foi recebido com abraços e carinho ao chegar ao Teatro Oficina.
“Todos estão lamentando, e eu também lamento a perda desse artista incomparável. Mas eu perco meu irmão, eu perco minha casa, meu lar. Minha amizade com Zé e Marcelo (Drummond, marido de Zé Celso) tem 35 anos e é profundamente íntima”, compartilhou.
Ele lembrou do diretor como uma figura familiar.
“Eu perco minha referência familiar mais forte, meu lugar no meu mundo. Desde que minha mãe faleceu, meu lugar no mundo era a casa do Zé e do Marcelo. Minha dor é a dor da família. Eu perco um irmão, meu grande irmão”, disse.
Chegaram, me levaram pelas escadas e então não vi mais o Zé, porque me colocaram em uma ambulância e o Zé foi levado para outro lugar.”
Marcelo Drummond, marido de Zé Celso, revelou que precisou ser hospitalizado devido à inalação de fumaça. Ele suspeita que o incêndio tenha começado no aquecedor do quarto de Zé Celso. “No quarto dele, não havia nada além desse aquecedor. No corredor, havia muitos materiais, como livros e cadernos. Parte desses cadernos, que não chegaram a ser digitalizados, foi perdida. Mas ainda não temos uma ideia clara do que foi perdido”.
A partida de José Celso Martinez Corrêa deixa um vazio na paisagem cultural brasileira.
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