Por Anna Flávia Moreira

Marcado pelo pioneirismo na luta antirracista em prol de um futebol democrático e popular, o Clube de Regatas Vasco da Gama celebra hoje, dia 21 de agosto de 2024, os seus 126 anos de uma história vital dentro do futebol brasileiro.

O clube foi fundado na data supracitada, no ano de 1898. Desde então, foi inaugurada uma associação de remo luso-brasileira formada principalmente por trabalhadores, muitos dos quais eram imigrantes, negros, residentes de áreas periféricas e analfabetos, cuja função profissional predominante era a de atendentes de balcão. Em vista disso, tanto os sócios quanto os atletas vascaínos eram frequentemente desconsiderados para a prática esportiva, uma vez que suas origens e condições sociais não eram valorizadas pela elite brasileira da época. No entanto, a exclusão elitista não impediu que a equipe conquistasse dois campeonatos e, posteriormente, adotasse a prática do futebol.

Em 1915 o futebol se torna parte do Vasco e, mais uma vez, a posição social de seus jogadores passa a ser um empecilho para a agremiação da época. Em 1923, o clube conquista seu primeiro campeonato carioca, com o lendário time denominado camisas negras. Entre os anos de 1906 a 1922, jogadores em situação de vulnerabilidade social  não faziam parte das equipes futebolísticas na cidade do Rio de Janeiro, uma vez que a exclusão étnico-racial predominava na sociedade.

As derrotas para o Vasco durante a competição eram inaceitáveis para os adversários que rapidamente passaram a afirmar que os atletas cruzmaltinos eram pessoas de “profissão questionável” e que o clube não possuía um estádio, portanto, não poderia participar do campeonato. Clubes da zona sul como Botafogo, Flamengo e Fluminense se uniram em prol desta iniciativa segregacionista. 

Em 1924, o presidente do Club de Regatas Vasco da Gama, José Augusto Prestes, enviou uma carta à AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Athleticos), conhecida como a “Resposta Histórica”. Nela, Prestes rejeitou as condições impostas e decidiu não se filiar à associação. O documento tornou-se um marco na luta contra o racismo no futebol, se consagrando até os dias atuais como uma referência política no âmbito esportivo.

Como consequência, em 21 de abril de 1927, a partir do esforço e investimento financeiro dos vascaínos, o Estádio São Januário foi erguido em dez meses, financiado pelos recursos obtidos por meio da ‘Campanha dos Dez Mil’, que arrecadava contribuições de torcedores de toda a cidade. Materializando, assim, a conduta antirracista e democrática à época, garantindo ao Vasco a participação em campeonatos. 

Em suma, a trajetória do Clube de Regatas Vasco da Gama, que hoje celebra 126 anos de existência, revela um profundo compromisso com a igualdade e a justiça no esporte. Desde a sua fundação, o clube tem se destacado como uma referência de resistência contra o elitismo e o racismo, refletindo em suas conquistas e em sua postura ousada a premissa de inclusão e democracia. A resistência ao sectarismo em 1924, exemplificada pela célebre “Resposta Histórica” de José Augusto Prestes, e a construção do Estádio São Januário, simbolizam não apenas a superação de barreiras institucionais, mas também a firme determinação em afirmar a dignidade e a equidade no futebol. Assim, o Vasco da Gama não só solidifica seu legado como uma entidade esportiva de grande relevância, mas também se consagra como um modelo de luta social e política, perpetuando o ideal de um futebol acessível e justo para todos.