Por Lara Musa, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

A cada quatro anos, somos tocados pelo espírito olímpico. Quem nunca mudou de canal e encontrou uma transmissão de um esporte diferente, novo, ou até mesmo incomum em nosso cotidiano? A cultura nacional é restritiva na popularização de esportes, centralizando os apoios e investimentos, deixando outras modalidades menos visíveis comercialmente à deriva.

Como exigir resultados a cada quatro anos se, durante o ciclo, um atleta de um esporte de menor expressão no país enfrenta diversas barreiras diariamente apenas para representar o país nos Jogos? As diferentes culturas presentes no Brasil formam variados hábitos e gostos para atividades físicas, mas é notável a disparidade nos investimentos.

O Brasil é, sem dúvida, o “país do futebol”, o esporte mais popular, com mais transmissões e maior valor comercial. Sem desmerecer, ele realmente o merece. Mas e os outros? Para a evolução, é necessário apoio suficiente.

Em 2009, uma matéria de Mariana Kneipp, do GE, destacou que os esportes de menor expressão no país viam a Rio 2016 como uma oportunidade para aumentar a visibilidade e, consequentemente, o apoio. A Confederação Brasileira de Tiro com Arco esteve ausente dos Jogos Olímpicos por quatro edições, retornando em 2008 com Luis Gustavo Trainini. Olhando para as Olimpíadas do Rio, a confederação fez parceria com a prefeitura de Maricá, no Rio de Janeiro, e criou em 2007 um programa para detectar jovens talentos em escolas públicas. O projeto enfrentou desafios iniciais, mas continua atuando até hoje!

“É muito bom ter um esporte de alto rendimento disponível pelo projeto. Quero ver mais atletas em competições de tiro com arco e brilhando através do Maricá Cidade Olímpica. Uma seleção muito importante, pois avaliamos e destacamos os atletas. Estou muito agradecido por fazer parte desse projeto,” comentou Marcus D’Almeida, coordenador de tiro com arco do projeto, à prefeitura de Maricá em 2023.

Marcus D’Almeida e Ana Luiza Caetano, que fazem parte do projeto “Maricá Cidade Olímpica”, estão entre os melhores do mundo e participaram dos Jogos Olímpicos de Paris com ótimas atuações. É necessário criar a consciência de que um trabalho de base bem feito é o melhor caminho para alcançar a elite do esporte e que este trabalho precisa ser contínuo.

Em Paris, vários esportes com menor tradição no país tiveram seus melhores resultados. Embora não tenham conquistado medalhas, entraram para a história com grandes feitos.

No badminton, Julia Viana tornou-se a primeira brasileira a garantir uma vitória olímpica na história do país.

No wrestling, Giullia Penalber disputou a medalha de bronze, não a conquistando, mas garantindo a melhor marca do país na história, superando Rosângela Conceição, que ficou em oitavo lugar na categoria até 72kg em Pequim 2008.

Na ginástica rítmica, Babi Domingos tornou-se a primeira brasileira a chegar à final da modalidade.

Luiz Maurício, no lançamento de dardo, foi o primeiro brasileiro em 92 anos a chegar a uma final e ainda quebrou o recorde sul-americano nas classificatórias, entre muitos outros.

E como esquecer de Caio Bonfim, nosso medalhista de prata na marcha atlética, um esporte frequentemente alvo de preconceito simplesmente por existir? Além da medalha, Caio deixou uma frase que valeu ouro: “O Brasil tem dois esportes: o futebol, e o que está vencendo.” Certeiro, o marchador mostrou a realidade exata do esporte no país.

Mais valioso do que uma medalha de ouro em um esporte já consagrado é abrir portas para que outros também tenham seu momento de brilhar. Que esses feitos sirvam de aprendizado para os detentores de poder no país, incentivando mais investimentos em projetos de esportes diversos, buscando não resultados imediatos, mas sim uma evolução a longo prazo. Que além de atrair apoio, possam inspirar novas gerações de atletas, que futuramente podem se tornar estrelas do esporte no Brasil.