Valdileia Martins: Do Assentamento do MST às Olimpíadas de Paris
A trajetória de Valdileia é uma história de superação e resistência dentro e fora do esporte
Com um salto que quebrou a marca de 1,92m, Valdileia Martins não apenas se qualificou para a final do salto em altura nas Olimpíadas de Paris, mas também igualou o recorde brasileiro feminino mais antigo da modalidade, estabelecido por Orlane Maria dos Santos em 1989. A trajetória de Valdileia até esse momento histórico é uma história de superação e resistência, marcada por desafios tanto dentro quanto fora do esporte.
Nascida e criada no assentamento Pontal do Tigre, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Querência do Norte, Paraná, Valdileia cresceu em meio a uma comunidade dedicada à agricultura e à luta por direitos. Desde cedo, ela ajudava na lavoura de algodão com seu pai, Israel Martins, um grande incentivador de sua carreira. Em um ambiente com recursos limitados, Israel improvisou equipamentos para treinar os filhos, usando sacos de milho recheados com palha de arroz como colchões e uma vara de pescar como sarrafo.
A paixão de Israel pelo esporte e o desejo de ver o assentamento se tornar um centro de formação de atletas alimentaram o sonho de Valdileia. A jovem foi descoberta pelo professor de educação física Flávio Rodrigues dos Santos, que viu nela um talento excepcional. “Se ele não tivesse me descoberto, eu não seria uma atleta”, reconhece Valdileia.
A carreira da atleta foi marcada por altos e baixos. Em 2003, ela venceu sua primeira competição fora da escola, nos Jogos Escolares do Paraná, saltando descalça e sem os recursos que suas adversárias de escolas particulares tinham. Desde então, Valdileia evoluiu, tornando-se uma das principais atletas do salto em altura no Brasil, com destaque em competições nacionais e internacionais.
No entanto, a jornada não foi fácil. A notícia da morte de Israel, vítima de um enfarte fulminante no dia 29 de julho, abalou profundamente Valdileia. O incentivo da mãe e dos irmãos, e o desejo de honrar a memória do pai, deram-lhe forças para continuar competindo em Paris. “Quero que você fique e compita, que era o que seu pai queria”, disse sua mãe.
Ontem (02), Valdileia conquistou a vaga na final olímpica, um feito que nenhuma brasileira havia alcançado desde 1968. Com uma determinação inabalável e um desejo de superar seus próprios limites, ela continua a desafiar as adversidades. Mesmo após uma lesão no tornozelo, Valdileia permanece focada em seu objetivo de se tornar medalhista olímpica.
Amanhã (4), Valdileia Martins representará não apenas seu país, mas também a força e a resiliência de sua comunidade. Sua história é uma poderosa lembrança de que, com coragem e dedicação, é possível transformar qualquer circunstância adversa em uma vitória. De algum lugar, Israel Martins estará torcendo por sua filha, orgulhoso de tudo o que ela conquistou.
Fonte: Demétrio Vecchioli/ Do UOL e Brasil de Fato