Vacinas estão disponíveis para crianças de 10 a 14 anos, mas desinformação afeta campanha
Especialistas apontam diversos fatores para explicar a baixa adesão à vacinação, incluindo a falta de percepção do risco por parte da população, a disseminação de fake news e a comunicação pouco efetiva sobre a importância da imunização pelos estados e municípios
Notícias falsas podem estar por trás do baixo índice de vacinação contra a dengue no Brasil. De um total de 1,2 milhão de doses distribuídas pelo Ministério da Saúde, apenas 30,8% foram aplicadas pelos serviços de saúde dos estados. A responsabilidade final da aplicação é de municípios e estados, mas isso tem falhado, o que agrava o cenário de emergência.
Especialistas apontam diversos fatores para explicar a baixa adesão à vacinação, incluindo a falta de percepção do risco por parte da população, a disseminação de fake news e a comunicação pouco efetiva sobre a importância da imunização pelos estados e municípios.
A desinformação tem sido um desafio, aponta Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia. Ele afirma que ataques fraudulentos às vacinas por meio de fake news e pseudociência são constantes. Para o especialista, as doses precisam estar disponíveis em todos os estados. “É preciso fazer a informação chegar adequadamente. Como é uma vacina que não está disponível para todos, apenas em algumas cidades, às vezes isso fica dúbio”, aponta. Atualmente, 16 estados receberam doses das vacinas, nove deles declararam emergência.
A campanha de vacinação começou em fevereiro, com o público alvo de crianças de 10 a 11 anos. O critério estabelecido para distribuição gratuita da vacina para esta faixa etária foi a de que este público é quem corre mais risco de um cenário grave da doença. Diante da baixa procura, a faixa etária foi expandida para adolescentes até 14 anos.
Um dos obstáculos identificados é a dificuldade de levar crianças e adolescentes para as unidades de saúde, o que levou especialistas a sugerirem a vacinação nas escolas como uma estratégia para aumentar a cobertura.
O Brasil registrou um recorde de contaminações pela doença em um ano, com 1,8 milhões de casos prováveis de dengue em 2024, comparado a 400.197 no mesmo período do ano anterior.
Confira a seguir as principais informações sobre a vacina:
O que é a dengue?
O vírus é transmitido para humanos por meio da picada de mosquitos fêmea infectados, que podem contaminar com quatro sorotipos virais diferentes: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4, cuja prevalência pode variar de acordo com a localidade e estações do ano.
Qual a composição da vacina da dengue?
A Qdenga é um imunizante tetravalente produzido a partir do vírus vivo atenuado, ou seja, do micro-organismo infectado, mas enfraquecido. Essa condição pode melhorar a resposta do sistema imunológico, funcionando de forma semelhante à defesa do corpo humano nos casos de infecção pela dengue.
Como foi o processo de aprovação do imunizante no Brasil?
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro da vacina em março de 2023, com base em estudo feito com mais de 28 mil pessoas, incluindo crianças e adultos. A concessão permite a comercialização do produto no Brasil, desde que sejam mantidas as condições aprovadas.
Os efeitos da vacina continuarão sendo monitorados, sob responsabilidade da empresa fabricante e com acompanhamento do Ministério da Saúde.
Como foi a incorporação da vacina no SUS?
Antes de ser incorporado ao sistema público de saúde, o produto foi avaliado pela Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologia (Conitec), e teve parecer favorável. A Conitec é vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE), do Ministério da Saúde, responsável por avaliar a incorporação de tecnologia em saúde no SUS.
Quais grupos podem se vacinar?
Inicialmente, a vacinação contra a dengue vai contemplar crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária que apresenta maior risco de agravamento e regiões com maior incidência da doença. Isto porque o laboratório tem uma quantidade restrita de doses disponíveis.
Como foram feitos os estudos?
A pesquisa de desenvolvimento da vacina incluiu 20.099 crianças e adolescentes saudáveis de 4 a 16 anos, residentes em países endêmicos, que foram divididos por região (Ásia-Pacífico ou América Latina) e idade (4 a 5 anos, 6 a 11 anos, ou 12 a 16 anos).
Quantas doses têm a vacina contra a dengue?
O esquema vacinal da Qdenga é composto por duas doses, com intervalo de 90 dias entre cada uma.
Quem já teve dengue pode tomar a vacina?
Quem já teve dengue também deve se vacinar para evitar nova infecção ou, em caso de contágio, sintomas mais leves. Além disso, nessas pessoas, é esperada uma resposta melhor ao imunizante.
A recomendação para quem teve dengue recentemente é aguardar seis meses para tomar a vacina. Quem for diagnosticado com a doença no intervalo entre as doses deve manter o esquema vacinal, desde que o prazo não seja inferior a 30 dias em relação ao início dos sintomas.
Qual é a eficácia da vacina Qdenga?
De acordo dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), a Qdenga demonstrou ser eficaz contra o DENV-1 em 69,8% dos casos; contra o DENV-2 em 95,1%; e contra o DENV-3 em 48,9%.
Durante o estudo, o DENV-4 não pôde ser avaliado porque havia poucos casos de dengue causados por esse sorotipo. Foi comprovada também a eficácia nos casos de hospitalizações por “dengue confirmada laboratorialmente, com proteção geral de 84,1%, com estimativas semelhantes entre soropositivos (85,9%) e soronegativos (79,3%)”, explica a SBim.
Para acessar a nota técnica da SBim, clique aqui.
Quais são as contraindicações?
As contraindicações da Qdenga são as mesmas para as vacinas feitas a partir de vírus vivo, ou seja, não deve ser tomada por gestantes e lactantes e pessoas com imunodeficiência.
A Qdenga não é o primeiro imunizante desenvolvido para evitar a dengue. Já houve uma vacina aprovada anteriormente, a Dengvaxia, do laboratório francês Sanofi- Pasteur, mas, ela só pode ser utilizada por aqueles que já tiveram dengue, sendo contraindicada para pessoas que nunca tiveram contato com o vírus.. Por essa razão, ela não foi incorporada ao SUS.
*Com informações do UOL e Ministério da Saúde