Urias no Festival Psica 2025 e a força inestimável de sua representatividade
Uma performance potente transforma o palco em ato político, unindo arte, resistência e representatividade trans e negra
por Paulo Gama
O Festival Psica 2025 testemunhou no palco Rio Voador uma performance que transcendeu o mero entretenimento, reafirmando a cantora Urias como um verdadeiro marco cultural e político no Brasil. Apresentando sua turnê “CARRANCA”, Urias entregou um espetáculo, que ecoou profundamente em seus fãs.
Para muitos, a arte de Urias não é apenas estética, mas um ato de resistência, afirmação e acolhimento. Yuri Souza, pessoa trans não-binária, estudante e artiste, conta que o show da artista foi muito mais do que uma apresentação: “O show de Urias, para mim, é fundamentalmente político e artístico. Toda arte é política, e ela escancara isso de um jeito bonito. É uma beleza que contrasta com a feiura da política atual do nosso país”, conta.

Yuri ressalta a importância da artista em um cenário onde a visibilidade de pessoas trans ainda é uma luta árdua. “Ela torna essa realidade possível para as outras pessoas trans do país como eu, que eu sou uma pessoa trans de gênero não binário e ela consegue abrir a portas para tantas outras”, afirma.
Urias se projeta como um verdadeiro sinal de esperança e um símbolo de resistência, abrangendo a comunidade negra e LGBTQIAPN+, “ela representa tudo que é jogado na sociedade e ela consegue tornar resistência.”
A conexão da artista com seu público é de uma intimidade transformadora. Antônio Rodrigues, jovem preto LGBT, compartilha uma devoção que remonta ao início da carreira de Urias, em 2018. “Assistir a Urias foi muito importante, muito gratificante para mim. Ela foi um marco para mim, no processo de me aceitar como uma pessoa LGBT e abraçar mais essa causa”.
A força da representatividade é tamanha que a arte de Urias foi imortalizada na pele de Antônio com uma tatuagem do single “A Vontade de Voar”, presente no seu recente álbum, “CARRANCA”. Questionado sobre o que torna a cantora tão representativa, Antônio toca em uma ferida social, transformando a existência da artista em um patrimônio inestimável: “A Urias representa tanto porque ela é uma mulher trans negra e é muito difícil. Sabe-se que a faixa etária de uma mulher que é trans é baixíssima, então para mim ela é um patrimônio cultural brasileiro”, conta emocionado.

Além do impacto social, Urias é celebrada pela sua inquestionável excelência artística. O álbum “CARRANCA” é visto como um divisor de águas na música brasileira contemporânea. Regina Franco (21), mulher trans preta, estudante, resumiu o sentimento de admiração: “Ver a Urias, uma mulher trans, preta nesse lugar, com esse álbum incrível, que eleva o nível artístico do Brasil, sabe? A Urias é maravilhosa.”

Para Regina, presenciar Urias no palco é mais do que assistir a um show, é testemunhar uma vitória coletiva. “É muito importante ver alguém que nem a gente nesses espaços,” destaca. A beleza e o talento da artista se fundem com a mensagem poderosa que ela carrega: “Ela é maravilhosa, porque ela está no lugar onde muitas de nós não estamos.”

O show de Urias no Psica 2025 foi um poderoso lembrete de que a arte, em sua forma mais autêntica, tem o poder de confrontar, curar e, acima de tudo, abrir caminhos para um futuro onde a pluralidade e a existência negra e trans sejam celebradas e respeitadas. A turnê “CARRANCA” é um grito, um convite à reflexão e uma celebração da vida, ressoando nos corações de quem vê em Urias a materialização de um sonho de voar.



