Japão foi a única seleção campeã a chegar às quartas de final, mesmo em meio à falta de apoio ao futebol feminino
Em entrevista a Time, Haruna Takata, que preside a WE League, revelou que, no país, as representações da mídia sobre as atletas femininas é de forte apelo visual e com foco na “fofura” das jogadoras
Em entrevista a Time, Haruna Takata, que preside a WE League, revelou que, no país, as representações da mídia sobre as atletas femininas é de forte apelo visual e com foco na “fofura” das jogadoras
Por Morgana Américo e Sarah Américo
Apesar de já ter sido campeã em 2011, ter chegado invicta às quartas de final da Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia – foi a única campeã a chegar nesta fase – o Japão, que foi eliminado nesta sexta-feira, 11, após perder de 2 a 1 para a Suécia, ainda carece de apoio ao futebol feminino mesmo em meio ao aumento do interesse global pela modalidade. Ele fica atrás de outros países em que já se vê uma valorização maior. O primeiro desafio vem logo de dentro de casa, em que as famílias, muitas vezes, não incentivam.
Em uma matéria compartilhada pela revista Time, no meio de julho, antes de o torneio começar, Haruna Takata, que preside a WE League, é vice-presidente da Associação Japonesa de Futebol e ex-presidente do V-Varen Nagasaki, clube da segunda divisão masculina, contou que as representações da mídia sobre as atletas femininas no Japão não ajudam a dar maior visibilidade ao esporte e a incentivar o apoio. “No Japão, a tendência é particularmente forte de focar no apelo visual e na fofura das jogadoras esportivas. Não importa o quanto a competitividade do futebol melhore, é difícil fazer com que as pessoas se interessem por esse aspecto”, disse.
Takata explica que esse comportamento das mídias tem relação com o fato de que, no Japão, existe uma grande desigualdade de gênero, que acaba “respingando” no esporte feminino. O país ocupa o 116º lugar no Índice Global de Diferença de Gênero do Fórum Econômico Mundial e é o único país do Grupo dos Sete fora do top 100. “Se a sociedade japonesa não tivesse uma diferença de gênero tão grande e se fosse mais esclarecida sobre as mulheres, acho que o futebol feminino também seria mais acessível para visualização”, disse Takata, acrescentando que acha incrível que todos os países estejam tão à frente de seu tempo em termos de desigualdade de gênero.
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Apesar de ter sido campeã em 2011 – pouco depois de o país ser abalado por um forte tsunami e terremoto – e ter ficado com o segundo lugar, em 2015, após perder para os Estados Unidos, Takata considera que o ímpeto por trás do futebol feminino no Japão, conhecido como Nadeshiko, estagnou, mesmo em meio ao aumento do interesse global pelo esporte. “Gostaria de ter aproveitado a oportunidade quando vencemos a Copa do Mundo e investido mais no lado comercial”, disse Takata, que assumiu o cargo na liga feminina no ano passado.
Para evitar que a Copa Feminina passasse em branco pelo país, Takata teve a ideia de iniciar uma campanha de crowdfunding para financiar os direitos de transmissão. Contudo, a emissora pública NHK interveio, no último minuto, e conseguiu o direito de transmitir o torneio. Mesmo que sua iniciativa não tenha se concretizado, ela diz que a saga ajudou a aumentar a conscientização sobre os problemas enfrentados pelo futebol feminino no Japão. Como mostrado pela reportagem da Time, as emissoras japonesas haviam exibido torneios anteriores da Copa do Mundo Feminina, mas esta foi a primeira vez que os direitos foram vendidos de forma independente e não junto com o evento masculino. Apesar dessa conquista, ainda há muito a melhorar, pois persistem grandes desigualdades em salários e prêmios em dinheiro, que dependem, em última análise, da capacidade do esporte feminino de gerar receita para a TV.
Na ocasião, Takata falou que, independentemente de o Japão ser campeão ou não, ela defendia que é importante aproveitar a oportunidade para aumentar o valor do futebol feminino em geral, com as jogadoras se tornando uma inspiração para as jovens. “Acredito que, se pudermos abrir caminho, podemos definitivamente ter um impacto em outros esportes femininos”, disse ela.
Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube