Uma SP de silêncio e grito: todos por Marielle
Em São Paulo, urgiram as vozes da revolta, da indignação e do ódio. Mas, ao mesmo tempo, muitas outras se calaram, compartilhando no silêncio uma dor que atingiu a todos. Celebrando no silêncio a luz de Marielle, que parece brilhar nos céus mais do que nunca.
Milhares de pessoas marcharam no centro da capital contra o assassinato da vereadora carioca
15 de março de 2018. Nessa data, o calendário escorre sangue. Estes números estão borrados pelas lágrimas. Esse dia será lembrado para sempre. 15M. 15 Marielle. 15 mil corpos. 150 mil vozes. Infinita a dor.
Em São Paulo, urgiram as vozes da revolta, da indignação e do ódio. Mas, ao mesmo tempo, muitas outras se calaram, compartilhando no silêncio uma dor que atingiu a todos. Celebrando no silêncio a luz de Marielle, que parece brilhar nos céus mais do que nunca.
O assassinato de Marielle grita porque impune, escancarado e sistemático. No centro de uma das maiores cidades do mundo, 9 balas percorreram o carro da vereadora, 5 a sua cabeça, mas nenhuma tão forte quanto a que se abateu sobre o povo, que em todo o país foram às ruas. Na capital paulista, tomou a Av. Paulista, a Rua da Consolação e a Praça Roosevelt, tradicional ponto de protestos.
As bandeiras vermelha, preta e verde, do movimento pan africanista, veio na linha de frente do ato. “Não nos reconhecemos nessa colônia portuguesa chamada Brasil, mas temos o direito de andar, estudar, ter lazer e viver”, ecoaram na Rua da Consolação.
“Vamos lutar até o fim, mesmo que caiam os nosso, como Marielle e Zumbi”.
A voz firme e retumbante, contrastava com a cerimônia do bloco afro Ilú Obá De Min. Desde o MASP até a praça do Ciclista, na Av. Paulista, para quem quer que se olhasse, escorriam as lágrimas, a fim de regar o caminho espiritual que Marielle trilhará daqui para frente.
Nas danças, nos batuques, no ritmo, as mulheres que tocam para Xangô trouxeram seu espírito para dentro da roda, em uma última dança, em uma última mostra do sorriso que tanto marcou a sua imagem.
Sim, Marielle: presente!
Mas não só, Marielle. Muitos outros “presentes”, como Amarildo e Luana Barbosa, vítimas da mesma “bala” que a atingiu: o genocídio da população negra.
“O que eu me pego pensando é como a gente luta, se está pensando primeiro em como se manter vivo”, conta o estudante, Guilherme Marcelino.
“É importante destacar que o fato de Marielle ser uma pessoa mais conhecida merece barulho. Mas o que aconteceu com ela representa algo maior, que é o racismo. Se não atacamos diretamente o racismo, o jogo não vira”, afirma Paula Santos.
Representatividade para virar o jogo
Marielle era negra, periférica, lésbica, mãe, pobre. Marielle era a cara do povo Brasileiro. Marielle era o próprio Brasil. Assassinada. Silenciada. Mas jamais esquecida. Sua presença no legislativo “incomodou demais” como disse um colega. Incomoda porque, de fato, representa.
“No congresso só temos homens, cis, héteros, brancos, ricos. Eles não sabem nada sobre o povo. Sem mudar isso, não vamos virar o jogo”, diz a estudante Raíssa Rodrigues.
“Mesmo quando ela estava lá, era só ela. É preciso ter mais Marielles para fazerem a diferença”, aponta a estudante Ediene Nascimento.
A dor de perder uma líder política negra como Marielle Franco mata a todos nós. Todo nós recebemos as balas e caímos com ela. Ao mesmo tempo, reagimos com mais força, juntxs, entendendo que a luta começa no hackeamento das estruturas de poder, como Marielle fez.
“Quando eu descobri, tomei um tiro também, só não cai. Mas nós não vamos parar. Para cada 1 que eles derrubarem, 10 dos nossos vão se levantar. Para cada bala que eles atirarem, 1 neguin vai ser diplomado”, afirma o ator Éder dos Anjos.
“Bater de frente vai chamar atenção, mas não mudar as coisas, porque infelizmente a caneta está nas mãos deles. Precisamos tomar o lugar do estado e colocar os nossos lá”, diz Éder.