Uma pessoa morre a cada minuto no mundo de causas relacionadas à aids, informa relatório do Unaids
Novos dados indicam que a pandemia de aids pode ser erradicada até 2030, mas isso dependerá do aumento de recursos e da proteção dos direitos humanos por parte dos líderes
Um novo relatório lançado nesta segunda-feira (22) pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/Aids (Unaids), em Munique, Alemanha, alerta que o mundo está em um momento crítico, onde as decisões tomadas pelos líderes mundiais determinarão se o compromisso de acabar com a Aids como uma ameaça à saúde pública até 2030 será cumprido. Intitulado “A urgência do agora: a aids em uma encruzilhada”, o relatório apresenta novos dados e estudos de caso que destacam a importância das escolhas políticas deste ano, as quais moldarão o destino de milhões de vidas e o futuro da pandemia. O lançamento ocorreu antes da abertura oficial da Conferência Internacional de Aids (Aids 2024).
Apesar de estarmos próximos de alcançar o fim da Aids nesta década, o relatório aponta que o mundo está atualmente fora do curso desejado. Globalmente, dos 39,9 milhões de pessoas vivendo com HIV, quase um quarto delas, 9,3 milhões, não têm acesso ao tratamento vital. Como resultado, uma pessoa morre a cada minuto de causas relacionadas à aids.
“Das quase 40 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo hoje, quase um quarto não tem acesso a tratamento vital. Não podemos desistir quando, a cada minuto, uma pessoa morre de doenças relacionadas à aids. Metade dessas pessoas não recebem o tratamento necessário. Entre as vítimas, quase metade são crianças que nascem com HIV, a maioria na África Subsaariana, porque não recebem os cuidados necessários para sobreviver. No ano passado, 76 mil crianças morreram de causas relacionadas à aids. Não podemos desistir”, disse Winnie Byanyima, diretora executiva do Unaids.
Os líderes se comprometeram a reduzir as novas infecções anuais para menos de 370.000 até 2025, mas em 2023 as novas infecções por HIV foram registradas em 1,3 milhão, mais de três vezes a meta estabelecida. Além disso, cortes nos recursos e pressões crescentes contra direitos estão colocando em risco os avanços conquistados.
Winnie Byanyima enfatizou ainda que “os líderes mundiais prometeram acabar com a pandemia da aids como ameaça à saúde pública até 2030, e eles têm a capacidade de cumprir essa promessa. No entanto, isso só será possível se houver garantia de recursos adequados para a resposta ao HIV e se os direitos humanos de todos forem protegidos. Os líderes têm o potencial de salvar milhões de vidas, prevenir novas infecções por HIV e assegurar que todos os que vivem com HIV tenham vidas saudáveis e plenas.”
Medidas ousadas
O relatório conclui que medidas ousadas e imediatas são necessárias agora para garantir recursos sustentáveis e proteger os direitos humanos, visando estabilizar o número de pessoas que necessitam de tratamento ao longo da vida em cerca de 29 milhões até 2050. Caso contrário, esse número poderá aumentar para 46 milhões até o mesmo ano, comparado aos 39,9 milhões registrados em 2023.
Apesar de avanços na expansão do tratamento para pessoas vivendo com HIV, que agora totalizam 30,7 milhões, o mundo ainda está longe de alcançar a meta de 2025 de reduzir as mortes relacionadas à aids para menos de 250 mil.
Desigualdade de gênero
A desigualdade de gênero continua aumentando os riscos enfrentados por meninas e mulheres, especialmente em partes da África. Além disso, o relatório destaca que o estigma e a discriminação continuam a ser barreiras significativas para serviços vitais de prevenção e tratamento, afetando especialmente populações-chave como profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens e pessoas que usam drogas injetáveis.
Para enfrentar esses desafios, é essencial que os direitos humanos sejam respeitados, leis discriminatórias sejam revogadas e a violência contra comunidades marginalizadas seja combatida.
Falta de financiamento
O relatório também aponta que o financiamento para o HIV está diminuindo globalmente, o que está prejudicando o progresso e até mesmo levando ao ressurgimento de epidemias em algumas regiões. Em 2023, os recursos totais disponíveis para o HIV foram de US$ 19,8 bilhões, uma queda de 5% em relação ao ano anterior e US$ 9,5 bilhões abaixo do necessário até 2025 (US$ 29,3 bilhões).
Winnie Byanyima concluiu: “A solidariedade entre os países está diminuindo, o que coloca em risco os avanços alcançados. No entanto, o caminho para acabar com a aids é conhecido e foi prometido pelos líderes. Agora é uma escolha política e financeira decidir se essa promessa será cumprida. O momento de escolher o caminho certo é agora.”
O relatório convida os lideres globais a ação, destacando que é urgente tomar medidas decisivas neste ano para garantir que as metas globais sejam alcançadas e que a resposta ao HIV seja sustentável, encerrando a epidemia de aids como uma ameaça à saúde pública até 2030.
“Por que tantas crianças morreram em 2023? Não podemos aceitar isso quando temos todas as ferramentas para prevenção, teste, tratamento e cuidados. Não podemos deixar que milhões morram e que a infecção continue se espalhando. Se os líderes políticos e empresariais agirem com solidariedade, seu legado será a prevenção de milhões de infecções, garantindo uma vida saudável para todos. Não há tempo a perder. Nosso relatório mostra que o caminho é claro: precisamos de ação política, investimento financeiro e defesa dos direitos humanos”, finalizou.
Fonte: Redação da Agência de Notícias da Aids