Por Lucia Ixchíu


De 12 a 14 de outubro na histórica e combativa Universidad del Valle em Cali, Colômbia, com oficinas de corpo, rodas de palavra e com concerto musical de encerramento, mais de 350 mulheres colombianas e convidadas de outros territórios estiveram juntas para debater a biodiversidade.

Organizações comunitárias, coletivos feministas da Universidad del Valle, organizações de direitos humanos, coletivos de comunicação alternativa e La Guardia Feminista, colocaram suas mãos e corações neste encontro que foi tecido com ternura, esperança e com o desejo de colocar no centro dos debates o cuidado dos territórios e do meio ambiente.

Não houve discursos acadêmicos ou palavras que não sejam compreendidas, houve experiências a partir de saberes situados, das histórias que se encarnam e passam pela pele num amplo caldeirão de cores e energias.

Teve músicas coletivas, teve abraços, teve comida feita com carinho afro, teve cuidado, teve caos, teve agenda e teve presença de mulheres das comunidades que não aparecem na grande mídia ou nas primeiras páginas dos jornais, tinha rádio Bacana, tinha dança e tinha música.

Com velas na mão, a cronometrista Carme Álvarez, uma maia K’iche da Guatemala, abriu o espaço para pedir licença aos quatro cantos, ao coração do céu, ao coração da terra e aos corações de todas as mulheres que estiveram nesta reunião.

Fotos: Ana María Ramírez y Casa Fractal

No “Encontro de mulheres populares e cuidadoras do corpo território-habitat”, como o chamavam, foi possível se encontrar com mulheres que trabalham a terra, mulheres que contam o tempo e as estrelas, em meio a canções e rodas da palavra. Aconteceram trocas que possibilitaram encontrar territórios e histórias. Mulheres indígenas, negras, afrodescendentes, quilombolas, palenqueras, cantoras, cuidadoras, mulheres que caminham, mulheres que com suas palavras constroem epistemologias próprias que não são necessariamente o que o mundo entende como feminismos.

O compromisso de muitas dessas mulheres é ir em direção à vida e se reconhecer como parte da biodiversidade que chamam de rede da vida, com mesas de diálogo sobre extrativismo, alternativas de prática. Foi discutida também a relação das mulheres com os territórios. “Nós fazemos parte da Biodiversidade”, gritaram em um painel.

Com as mãos na terra, os pés enraizados e a voz voltada para a lua, as mulheres se reuniram asim para colocar em palavras suas demandas, seus sentimentos e pensamentos em relação à Conversão Climática da Biodiversidade que inunda a Colômbia perto da COP16, que será realizada em Cali, de 21 de outubro a 2 de novembro. O objetivo do Encontro foi alcançado: visibilizar outras narrativas e epistemologias que são construídas pelas mulheres no dia a dia, para negociar e construir os mundos que sonhamos e que já criamos em meio às cúpulas internacionais que falam e negociam sobre a biodiversidade.