O Brasil enfrenta uma crise alarmante no saneamento básico, conforme revela um estudo divulgado nesta quinta-feira. Mais de 102 milhões de brasileiros, representando uma em cada duas pessoas no país, vivem diariamente com a carência de serviços essenciais, como abastecimento de água, coleta de esgoto e até mesmo um banheiro. A análise, baseada nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, destaca diversos aspectos preocupantes.

Panorama Regional: Nordeste Lidera as Estatísticas

A região Nordeste do Brasil surge como epicentro da crise, com 40,3 milhões de pessoas enfrentando algum tipo de privação de saneamento. As residências em áreas rurais, cidades do interior e assentamentos precários são particularmente afetadas, ressaltando uma disparidade regional significativa.

Crise na Coleta de Esgoto: Desafios Ambientais Crescentes

A falta de coleta de esgoto se destaca como o problema mais premente, atingindo quase 70 milhões de brasileiros. Esse cenário reforça a preocupação ambiental, uma vez que metade do esgoto do Brasil é despejada na natureza sem tratamento adequado, gerando sérias consequências para o meio ambiente e a saúde pública.

Falta banheiro em 85% dos lares de pessoas negras

A análise dos dados revela uma nítida disparidade racial, com 66% das pessoas afetadas pela falta de coleta de esgoto sendo negras. Essa interseccionalidade entre questões sociais e ambientais destaca a urgência de abordagens inclusivas para superar as desigualdades estruturais.

Contrariando a percepção comum, a privação de saneamento não é exclusiva de áreas rurais, com 62,7% das moradias afetadas localizadas em áreas urbanas. Isso sublinha a amplitude do problema nas cidades brasileiras, exigindo soluções específicas para contextos urbanos.

A falta de acesso a um banheiro em casa afeta 4,4 milhões de brasileiros, sendo 85% deles negros. Esse aspecto é considerado crucial para a dignidade e saúde humana, exigindo medidas imediatas para proporcionar condições básicas de higiene.

Fernando Garcia de Freitas, pesquisador do Instituto Trata Brasil, destaca a necessidade urgente de programas de reforma e políticas habitacionais para enfrentar esse desafio crescente no cenário nacional. Ele enfatiza que o saneamento está intrinsecamente ligado à qualidade de vida da população, exigindo ações concretas para garantir condições básicas a todos os brasileiros.