Um Elvis forjado na cultura negra
Cinebiografia assinada por Baz Luhrmann destaca influência da música preta na carreira de Elvis Presley
Cinebiografia assinada por Baz Luhrmann destaca influência da música preta na carreira de Elvis Presley
Por Carolina Martins para a Cobertura Colaborativa Cine NINJA do Oscar 2023
Ninguém passa incólume a Elvis Presley. E para quem sabe pouco sobre a história dele, o filme é um ótimo pretexto para conhecer mais. A trama é escrita e dirigida pelo australiano Baz Luhrmann. Quem assistiu Moulin Rouge (2001) e The Great Gatsby (2013), também assinado pelo diretor, vai reconhecer a estética.
“Elvis” não é o primeiro filme sobre a vida do ídolo pop. A diferença, desta vez, está no narrador escolhido para contar a história – o empresário do cantor, “coronel” Tom Parker (Tom Hanks).
Parker é conhecido por explorar e roubar Presley (Austin Butler) por mais de 20 anos, usando as vulnerabilidades dele e da família. É visto também como o responsável pela depressão e pela dependência que Elvis desenvolveu em tranquilizantes e outras drogas – uma combinação que resultou em sua morte precoce. O interessante do filme é acompanhar tudo isso pelo ponto de vista do “vilão”, e ainda assim, terminar o filme contra ele.
Permitir que Tom Parker construa toda a narrativa inevitavelmente traz uma humanização para o coronel. É que ele, bem ou mal, justifica as próprias atitudes – e responsabiliza Elvis por “se permitir ser explorado”. De fato, em determinados momentos da história, a gente questiona a ingenuidade do cantor.
Mas, um dos pontos altos do roteiro é a tentativa de dar créditos à cultura negra pela fama de Elvis Presley. O filme começa situando o menino Elvis em uma comunidade pobre e majoritariamente ocupada por pessoas negras em Mississipi, onde ele morava com a família. Recebeu grande influência, desde a infância, da música gospel negra. Adolescente, em Memphis, começou a ficar conhecido por fazer cover de grandes hits da black music – que na voz de um jovem branco ganhou passabilidade e chegou aos grandes palcos.
O filme também mostra uma relação próxima entre Elvis e B.B King – o rei do blues.
“Eles podem me prender por atravessar a rua, mas você é um branco famoso” – essa é uma fala emblemática de B.B King em um dos diálogos com Presley no filme. Na época, Elvis era perseguido pela dança libidinosa que virava a cabeça das moças de família.
Não se sabe se a amizade entre os dois foi tão próxima quanto a retratada nas telas. Mas, é essa relação que, no filme, ajuda a construir alguma consciência política de Elvis, em meio à ebulição da luta pelos Direitos Civis nos EUA.
É preciso mencionar também a atuação de Austin Butler, que sublimou a mera imitação. Os trejeitos estão lá, mas não simplesmente. Ele de fato se tornou um Elvis. E a caracterização de Tom Hanks como o canastrão Tom Parker também chama a atenção. Eu só acreditei que era o ator quando vi o nome dele nos créditos.
Indicações ao Oscar 2023:
Melhor filme
Melhor ator (Austin Butler)
Melhor edição
Melhor design de produção
Melhor fotografia
Melhor figurino
Melhor maquiagem e penteado
Melhor som
*Conteudo produzido em Cobertura Colaborativa Cine NINJA do Oscar 2023.