Por Leila Monnerat

Uma pesquisa recente revelou que alimentos ultraprocessados de origem vegetal estão associados a um aumento significativo no risco de doenças cardiovasculares e mortalidade. Os resultados indicam que esses alimentos aumentam em 12% a chance de óbito por problemas cardíacos e em 5% o risco de desenvolver essas doenças. O estudo, realizado por pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Imperial College London e a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), foi publicado na segunda-feira (10) na revista científica The Lancet Regional Health Europe sob o título “Implications of food ultra-processing on cardiovascular risk considering plant origin foods: an analysis of the UK Biobank cohort”.

Os dados também indicaram que substituir alimentos ultraprocessados de origem vegetal por alimentos vegetais que não sejam ultraprocessados está associado a uma redução de 7% no risco de incidência de doenças cardiovasculares e de 15% na mortalidade por essas doenças. Além disso, aumentar em 10% o consumo de vegetais levou a uma redução de 7% no risco de doenças cardiovasculares e de 13% na mortalidade.

Utilizando dados de mais de 118 mil participantes do Reino Unido – catalogados no UK Biobank – com idades entre 40 e 69 anos, o estudo analisou a dieta e a saúde cardiovascular dos envolvidos. Os alimentos foram classificados como de origem animal ou vegetal, e subdivididos em ultraprocessados e não ultraprocessados, usando a classificação Nova, que categoriza alimentos pelo grau de processamento.

Contribuição dietética de alimentos agrupados de acordo com sua origem (animal ou vegetal) e seu grau de processamento (não ultraprocessados ou ultraprocessados).

As covariáveis do estudo incluíram: idade, sexo, etnia, região, índice de massa corporal, atividade física, status de tabagismo, histórico familiar de doença cardiovascular, além do indicador socioeconômico IMD.

Este é o primeiro estudo de coorte em larga escala a analisar simultaneamente o papel dos graus de processamento industrial dos alimentos e suas fontes (vegetal versus animal) no risco de doenças cardiovasculares. Os pesquisadores destacaram que “as diretrizes dietéticas que promovem dietas à base de alimentos de origem vegetal devem enfatizar não apenas a redução de carne, carne vermelha ou alimentos de origem animal, mas também a necessidade de evitar todos os alimentos ultraprocessados”, sejam eles de origem animal ou vegetal.

Em 2019, o Comitê de Mudanças Climáticas do Reino Unido recomendou uma redução de 20% no consumo de carne e laticínios de alto carbono até 2030, com aumento do consumo de produtos de origem vegetal. Porém, as dietas modernas de origem vegetal podem incorporar uma variedade de produtos ultraprocessados, incluindo bebidas adoçadas, lanches, confeitos, além de salsichas, nuggets e hambúrgueres que são produzidos somente com ingredientes vegetais e comercializados como substitutos de carnes e laticínios.

Os autores destacaram que, embora as dietas de origem vegetal tenham potencial de proteção contra doenças cardiovasculares, a presença de produtos ultraprocessados pode modificar esses efeitos. Os mecanismos exatos pelos quais esses produtos podem prejudicar a saúde ainda não são totalmente compreendidos, mas incluem a composição nutricional desequilibrada e as estruturas físicas e químicas novas dos ultraprocessados.

A doença cardiovascular continua sendo a principal causa de mortalidade precoce no mundo, contribuindo para 18,6 milhões de mortes em 2019. Entre todos os fatores de risco modificáveis, a promoção de padrões alimentares saudáveis é provavelmente uma das estratégias mais baratas para prevenir a doença.

Acesse a íntegra do artigo (em inglês):