Tunísia, Chile, Ucrânia: diversidade marca indicados à categoria “Melhor Documentário”
Todos os cinco indicados são filmes focados em eventos geopolíticos e três são dirigidos por mulheres
Por Alexandre Cunha*
A lista de indicados ao prêmio de Melhor Documentário Longa-Metragem é uma das mais diversas do prêmio deste ano. Todos os cinco indicados são filmes focados em eventos geopolíticos e três são dirigidos por mulheres. A arte da narrativa não-ficcional é renovada com representantes que trazem análises de períodos históricos importantes para a compreensão da sociedade contemporânea.
A Memória Infinita
Dirigido por Maite Alberdi, o documentário “A Memória Infinita” utiliza-se de uma circunstância individual para pensar a memória nacional chilena. A obra acompanha o lidar com o Alzheimer na vida do jornalista chileno Augusto Góngora e sua companheira, Paulina Urrutia. Conhecido por sua cobertura jornalística durante os anos sanguinários da ditadura de Augusto Pinochet, Góngora começa a perder a memória e o filme oscila entre o passado e o presente, intercalado com vídeos caseiros e filmagens de sua carreira de décadas. A obra, disponível no streaming da Paramount, é potente ao mostrar como um homem que passou a vida preservando a memória de um país começa a lidar com a perda da sua própria memória.
Matar um Tigre
Produção canadense que narra uma história na Índia, “Matar um Tigre” acompanha Ranjit, um fazendeiro indiano que busca justiça para sua filha de 13 anos, vítima de um estupro coletivo em sua aldeia. Na Índia, país com estrondosas taxas de violências sexuais contra mulheres, com pouquíssimas condenações, a jornada de Ranjit é sem precedentes e pode se tornar um marco. O filme chega aqui no Brasil neste domingo (10), no dia da cerimônia do Oscar, pela plataforma de streaming Netflix.
20 Dias em Mariupol
O aclamado documentário do jornalista Mstyslav Chernov, da Associated Press, é o favorito da categoria. As imagens in loco registram o ambiente de tensão na cidade ucraniana quando a invasão russa começou, em 2022. Com um olhar explicitamente pró-Ucrânia, o filme é competente ao capturar a ansiedade de uma cidade sitiada em tempo real, civis presos e o luto das vítimas que nada têm a ver com a batalha por poder dos seus líderes. “20 Dias em Mariupol” está em cartaz nos cinemas brasileiros.
Bobi Wine: O presidente do povo
Também fruto de um projeto jornalístico, “Bobi Wine” conta a história da luta pela democracia em Uganda de uma estrela pop que se tornou ativista. O documentário de Moses Bwayo e Christopher Sharp mostra como Bobi Wine utilizou a sua música para combater o regime liderado por Yoweri Museveni, que liderou o país por 35 anos. Uma obra pesada, marcada pela violência, já que até o próprio co-diretor Moses Bwayo foi baleado à queima-roupa durante as filmagens. Disponível no streaming Star+.
As 4 Filhas de Olfa
Dirigido pela incrível Kaouther Ben Hania (previamente indicada ao Oscar por “O Homem que Vendeu Sua Pele”), o filme fez uma ótima passagem pelo Festival de Cannes. O longa acompanha a vida de Olfa, uma tunisiana que teve duas das suas quatro filhas desaparecidas. Com uma narrativa inovadora, a cineasta escalou duas atrizes que passaram a viver com Olfa por um tempo. A obra se aproxima de documentários que abraçam a feitura fílmica como elemento narrativo, tais como “O Ato de Matar” e “Sob o Sol”. Assim como “20 Dias em Mariupol”, o filme está em cartazes em algumas cidades brasileiras.
*Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2024