Um hondurenho protege seu filho. | Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

O termo América Latina foi construído envolto em disputas políticas e ideológicas. Se os Estados Unidos da “América” pretendiam ser o autêntico líder do continente, os latinos nunca se sentiram iguais pelas recorrentes ações vindas do norte. Neste contexto , é perceptível que a frase “A América para os americanos” se impõe por uma sentido de dominação por parte dos anglo-saxões, desta forma a adoção pelos latinos de outra especificação foi consciente. Em verdade, foi o colombiano José María Torres Caicedo através de um poema de 1857 que nos revelou um conceito bastante atual, que vivemos em duas Américas.

Hoje não é difícil compreender como esta designação se faz necessária para nossos dias. A imagem de 8000 imigrantes centro-americanos, na maioria de Honduras,tentando chegar aos EUA e serem recebidos com expressa ordem de uso de armas letais pelos americanos do norte ofusca o nosso olhar. Nesta visão, é claro que os latinos servem apenas para comprar produtos industrializados, pagar juros de dívidas intermináveis e permitir a extração dos seus recursos minerais em valores vis. Uma relação econômica que remonta ao período colonial.

Se as armas mortais ainda não foram disparadas, a patrulha fronteiriça empregou em larga escala gás lacrimogênio e balas de borrachas contra quase 700 pessoas que tentaram atravessar a divisa de Tijuana (México) para San Ysidro (EUA). São mulheres, idosos, crianças e homens que sem emprego, moradia e com a fome de viver com 1 dólar por dia, procuram condições de sobrevivência na nação que golpeou a economia do seu país originário.

Os EUA que desde muito tempo controla Honduras, apoiou um golpe nas eleições de 2017 que permitissem seu aliado, Juan O. Hernández, se candidatar mesmo a constituição proibindo reeleição. A contagem das urnas foram até interrompidas para voltarem numa segunda fase em sentido contrário que elegeu JOH. Aliados, a OEA e os EUA chancelaram o golpe. A história dos hondurenhos é similar a dos brasileiros (1964, 2016), guatemaltecos(1948), chilenos (1973), argentinos(1976) e dentre outros o México(2006). É uma paradigma utilizado sempre que governos dificultem a acumulação capitalista estadunidense em seus territórios.

Donald Trump, segue o modelo de ao mesmo tempo usar o liberalismo para abrir e dominar o mercado latino, mas fecha as portas para sua população. Na divisa se encontram 6900 militares com livre arbítrio para matar os imigrantes. As práticas dos EUA e União Europeia já despertam grande preocupação na ONU, pela possibilidade destes abandonarem o acordo global sobre o tema. Esta seara foi bem exposta pelo discurso (25/11) da Presidenta da Assembleia Geral das Nações Unidas , Maria Espinosa.

” O pacto é um instrumento de cooperação. É um acordo histórico que ajuda garantir que os migrantes tenham seus direitos salvaguardados e que sejam tratados de forma justa (…) A migração é parte da maneira como o mundo se desenvolve (…) Vimos recentes fluxos incomuns que precisam ser resolvidos e enfrentados multilateralmente . E a resposta justamente é o pacto global.”

Em outro sentido de ideias, Trump aclara a forma contraditória de defender a América para os americanos. Da mesma forma que permite encerrar vidas ,pressiona o México com o fechamento permanente da fronteira,ou literalmente permitir no século XXI a imagem de duas Américas de Torres Caicedo.

“O México deveria expulsar para seus países os imigrantes que levantam as bandeiras, muitos dos quais são criminosos endurecidos. Enviem de avião, de ônibus ou de qualquer outra forma que quiserem, pois não entrarão nos Estados Unidos. Fecharemos a fronteira de forma permanente, se for necessário… ninguém entrará como ilegal em nosso país.”

Em largas parcelas, os latino-americanos foram submetidos a intervenções protagonizadas pelos anglo-americanos que resultaram numa precarização nas condições de vida dos mais necessitados. Neste contexto são responsáveis, em muito, pela forma de exploração que praticam com os americanos do sul, criminalizá-los é mais uma etapa da injustiça que carregam em sua história.

Afinal nenhum ser humanos é ilegal, ou deveria sofrer ameaças de morte, se migra como oprimido na busca de melhores condições de vida.

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

Colunista NINJA

Memória, verdade e justiça

FODA

Qual a relação entre a expressão de gênero e a violência no Carnaval?

Márcio Santilli

Guerras e polarização política bloqueiam avanços na conferência do clima

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Dríade Aguiar

'Rivais' mostra que tênis a três é bom

Andréia de Jesus

PEC das drogas aprofunda racismo e violência contra juventude negra

Márcio Santilli

Através do Equador

XEPA

Cozinhar ou não cozinhar: eis a questão?!

Mônica Francisco

O Caso Marielle Franco caminha para revelar à sociedade a face do Estado Miliciano

André Menezes

“O que me move são as utopias”, diz a multiartista Elisa Lucinda

Ivana Bentes

O gosto do vivo e as vidas marrons no filme “A paixão segundo G.H.”

Márcio Santilli

Agência nacional de resolução fundiária

Márcio Santilli

Mineradora estrangeira força a barra com o povo indígena Mura

Jade Beatriz

Combater o Cyberbullyng: esforços coletivos