Foto: Divulgação

 

Por Clayton Zóccoli para a Cobertura Colaborativa Cine NINJA do Oscar 2023

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo cumpre a promessa que seu nome faz. Nele são abordados diversos temas, desde filosóficos como o niilismo, até masculinidade frágil e empatia. Praticamente tudo acontece nesse filme e nada de forma rasa. Mas a personagem que talvez mereça um posto de destaque é a vilã mais criativa e espalhafatosa dos últimos tempos: Jobu Tupaki.

No início ela é anunciada como um típico vilão do 007, querendo dominar e destruir tudo. Mas quando vemos a evolução de seu arco entendemos que sua busca é muito mais profunda e pessoal, se afastando cada vez mais desse estereótipo de personagem. Algo com que todos nós podemos nos identificar: ela busca ser vista.

O filme abre com uma cena de uma família unida, se divertindo, cantando em um karaokê. A cena é cortada para mostrar que essa família pertence a outra realidade: ela está num estado muito longe de ser divertida ou até mesmo funcional.

Lavanderia da família chinesa. Foto: Divulgação

Evelyn é uma mãe empreendedora que tenta a todo custo obter sucesso e se provar para seu pai. Ela não percebe que está se tornando uma versão dele para sua filha. A personagem não busca tempo para acolher sua família e nem se esforça para enxergar os traços que considera falho nela, principalmente quando falamos de seu relacionamento com a filha.

Joy demonstra o tempo todo sua insatisfação com a negação de sua sexualidade por parte de sua mãe que. Essa, por sua vez, não sabe se expressar e acaba atacando verbalmente sua filha, com opiniões fora de contexto que diminuem sua auto-estima.

A agressividade se torna a única forma de comunicação que Joy aprende e isso se reflete em sua versão vilanesca de Jobu Tupaki.

Conforme a trama do filme avança e a relação entre mãe e filha se torna cada vez mais importante, vemos que sua real motivação era encontrar empatia em algum lugar do multiverso, de preferência em sua mãe. Seu drama é ser vista em seu todo: em sua sexualidade, em seu corpo, em suas escolhas, enfim, ser vista como pessoa.

E é aí que acredito que está a importância de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Quem nunca se sentiu anulado por outro, seja nas relações familiares ou sociais. Especialmente pessoas que fazem parte das minorias, que todos os dias travam uma luta árdua para serem reconhecidas socialmente, podem se identificar com Joy/Jobu Tupaki.

Cena de Tudo em todo lugar ao mesmo tempo. Foto: Divulgação

Evelyn também passa por uma jornada de aceitação, não apenas de sua filha, mas de si mesma. Ao viajar por suas dezenas de versões e experimentar o amor de diversas formas, aprende a valorizar o menor dos detalhes e encontra dentro de si a capacidade de amar até mesmo a sua maior inimiga.

Esse filme traz à luz, de uma maneira profunda e nada convencional, temas que fazem parte do dia a dia de muitas pessoas e entrega uma maneira muito bonita de lidar com esses conflitos: com gentileza e aceitação (dos outros e de si mesmo).

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2023