Tudo caro, né? Clientes deixam recado a bolsonaristas em supermercado
Inflação de abril foi a maior em 27 anos para o mês
Circula na web imagem, de autoria anônima, que mostra um recado bastante incisivo a bolsonaristas deixado em uma prateleira de supermercado. “Tudo caro né, trouxa?”, provoca o bilhete. “Bota a culpa na guerra e vota no Bolsonaro de novo”, ironizou.
https://twitter.com/kriskacarvalho/status/1520022214564847618?s=28&t=w9hlLEhwE2RWpVNN7DZrpw
Não se sabe ainda a origem do recado e em qual supermercado ele foi deixado, mas o fato é que a inflação no mês de abril atingiu milhares de brasileiros em diversas localidades do país. De acordo com a Pesquisa Comportamento e Economia no Pós-Pandemia, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Instituto FSB de Pesquisa, 95% dos brasileiros têm sentido a alta generalizada de preços nos últimos seis meses.
A pesquisa aponta ainda que a percepção de inflação aumentou 22 pontos percentuais na pesquisa de abril em relação à de novembro passado, quando 73% dos entrevistados afirmaram ter notado os preços mais altos.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta quarta-feira (27) a alta de 1,73% do IPCA 15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) em abril. Essa foi a maior variação para o mesmo mês em 27 anos — desde 1995 —, quando o índice foi de 1,95%. O resultado também apresenta a maior variação mensal do indicador desde fevereiro de 2003 (2,19%).
A culpa é da pandemia?
Em respostas a diversas postagens com a foto do bilhete de supermercados, eleitores de Bolsonaro têm argumentado que o presidente havia alertado que a economia seria afetada com as políticas de lockdown durante o período de pandemia. Para eles, se as pessoas não ficassem em quarentena, a inflação não seria sentida pelo bolso dos brasileiros. Economistas e diversos especialistas refutam esse argumento.
“O lockdown não tem culpa nenhuma. Era o melhor do mau negócio”, disse André Braz, coordenador do IPC (Índice de Preços do Consumidor) do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), em entrevista ao UOL em outubro de 2021. “Se não fosse isso, a situação seria muito pior. O isolamento social feito de forma adequada evita que a economia fique paralisada por muitos meses”.
Na mesma reportagem, a historiadora e economista Ana Paula Salviatti explica que “a inflação no Brasil acontece pela vulnerabilidade insistentemente buscada pelos nossos dirigentes políticos e econômicos, pela nossa ampla dependência de produtos importados, de todos os tipos”.
A desvalorização do real e da queda de investimento estrangeiro é um dos fatores que contribuíram diretamente para a subida dos preços no Brasil. São fatores, portanto, que têm relação direta com o ambiente político do país, incluindo incertezas geradas pelo governo. Outros fatores apontam ainda a falta de políticas contra o efeito de questões climáticas na agricultura brasileira, a crise hídrica e o aumento na conta de luz.