Três em cada cinco perfis que tuitaram sobre atos pró-Bolsonaro do 07/09 têm alta probabilidade de serem bots
O Pegabot identificou que 59.3% das contas que publicaram com a tag “#7deSetembroVaiSerGigante” apresentaram um índice de 70% ou mais de comportamento automatizado
Publicado originalmente por Nathália Afonso, para Agência Lupa
A maior parte das publicações no Twitter que convocaram para atos em defesa do governo Bolsonaro no dia 7 de setembro foi impulsionada por perfis com alta probabilidade de serem automatizados. Um relatório produzido pelo Pegabot, projeto desenvolvido pelo ITS Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio), mostrou que cerca de três em cada cinco perfis analisados que postaram a hashtag “#7deSetembroVaiSerGigante” tinham características típicas de “bots”.
“Bots” são utilizados como estratégia para impulsionar hashtags e conteúdos, gerando engajamento artificial e influenciando o rumo do debate nas redes sociais. O levantamento feito com o Pegabot, que analisou o período de 23 de agosto a 1º de setembro, mostrou que 59,2% dos usuários tinham alta probabilidade de serem automatizados. Essas contas publicaram 69,6% dos posts que continham a hashtag analisada, o que representa 34.736 dos 49.923 tuítes examinados.
“A existência de contas automatizadas não significa que não exista também um movimento orgânico de apoio a essa hashtag. Mas as contas com indícios de automação, pela ação coordenada de tuitar milhares de mensagens repetidamente, fazem com que a rede seja mergulhada nesse tema, incentivando o movimento orgânico. A ação automatizada é empregada para impulsionar o debate, funciona como a fagulha para acender o tema de forma artificial e fazer o fogo se alastrar”, afirma Karina Santos, Coordenadora de Mídias e Democracia no ITS.
O ITS Rio fez ainda um segundo relatório com a ferramenta, analisando um período mais próximo das manifestações, e mostrou que, nos últimos dias, houve um movimento de impulsionar publicações, encorajando os atos no feriado da Independência. Entre os dias 2 e 4 de setembro, os pesquisadores coletaram 37.355 tuítes usando a mesma hashtag “#7deSetembroVaiSerGigante”, publicados por 15.785 usuários. Desse total, 15.681 perfis foram analisados. O Pegabot identificou que 59.3% deles apresentaram um índice de 70% ou mais de comportamento automatizado – número bem próximo ao do levantamento feito entre 23 de agosto e 1º de setembro.
Uma das informações interessantes do segundo relatório diz respeito às palavras que aparecem junto com a hashtag “#7deSetembroVaiSerGigante”. “Bolsonaroreeleito2022”, “esquerdanuncamais” e “7desetembroeuvou” estão entre alguns termos mais recorrentes. Além disso, outros posts também mencionaram o ex-ministro de Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato apoiado por Bolsonaro ao governo de São Paulo. Ataques à imprensa, mais precisamente à Globo, também apareceram no monitoramento.
O Pegabot apontou ainda que os perfis com alta probabilidade de serem bots retuitaram muito mais do que publicaram conteúdo original. “92% desse volume de registros feitos por perfis com alta probabilidade de automação corresponde a RTs e apenas 8% a tuítes”, foram usados principalmente para compartilhar conteúdos publicados por outros perfis, impulsionando esses posts.
No ano passado, a Lupa também publicou uma reportagem que mostrava que os perfis automatizados estavam aumentando conforme a data dos protestos se aproximava. Na ocasião, dois relatórios do Pegabot mostravam que as manifestações de perfis com alta probabilidade de serem bots cresceram 14%. Na época, uma a cada quatro publicações tinha alto índice de automatização.
Em seu relatório, a equipe do Pegabot afirma que a detecção de comportamento automatizado tem limitações, mas que o projeto vem passando por constantes avaliações e ajustes para entender as novas estratégias adotadas por esses perfis automatizados “Por esse motivo, procuramos não apontar esses perfis de forma direta, mas sim entender o uso de automação de forma mais ampla, identificando comportamentos que fogem do esperado ou observado, além de apontar indícios de ação coordenada por parte dos usuários ao redor de um tema ou hashtag comum”, afirma o relatório.
A assessoria de imprensa do Twitter informou, em nota, que conduziu uma análise e “não encontrou evidências de comportamentos inautênticos ou automatizados gerando tráfego direcionado a ela”.