Três biomas sob ataque: Em MT, deputados podem extinguir parque em area de transição
Em Mato Grosso, as unidades de conservação têm sido alvo de ataques que partem de todos os lados, movidos pela ânsia do lucro do agronegócio
Votação na Assembleia Legislativa de MT pode acabar com parque que tem biomas Cerrado, Pantanal do Guaporé e Amazônia
Em Mato Grosso, as unidades de conservação têm sido alvo de ataques que partem de todos os lados, movidos pela ânsia do lucro do agronegócio.
Esse é o caso do Parque Estadual Serra Ricardo Franco, que fica em Vila Bela da Santíssima Trindade, a 527 km de Cuiabá.
Na quarta-feira (4), ainda que não constasse na ordem do dia da sessão da Assembleia Legislativa de Mato Groso, de repente, surgiu na pauta de votação, o Projeto de Decreto 02/17, há mais de um ano sem tramitar. Porém, apto para a 2ª e última votação.
Este, visa extinguir o Parque Estadual Serra Ricardo Franco, porque susta os efeitos do seu decreto de criação (nº 1.796/1997).
O deputado bolsonarista, Gilberto Cattani (PL), requereu o retorno da tramitação do projeto, em regime de Urgência Urgentíssima na tentativa de aprová-lo no mesmo dia.
Mas o deputado Lúdio Cabral (PT) reagiu, dizendo que não havia quórum qualificado para votação e foi assim que Cattani não conseguiu emplacar a votação.
Vale ressaltar, o requerimento teve aprovação de 15 parlamentares. Isso quer dizer que eles apoiam a extinção da unidade de conservação estadual que salvaguarda biodiversidade dos biomas Amazônia, Pantanal do Guaporé e Cerrado.
Seu fim interessa apenas a produtores rurais do município que enfrentam uma série de ações judiciais em decorrência de crimes ambientais.
A votação derradeira deve ocorrer na próxima quarta-feira (11). Ainda cabe pedido de vista, no entanto, como a bancada da ALMT é predominantemente governista e apoiadora do agronegócio, o futuro do parque é incerto.
Organizações da sociedade civil, como o Observatório Socioambiental de Mato Grosso já alertaram sobre a inconstitucionalidade do PDL.
Quando semanas atrás, Gilberto Cattani convocou uma audiência com presença quase que majoritária do setor do agronegócio local, a consultora jurídica e de articulação, Edilene Rodrigues alertou os presentes que essa seria uma saída inviável, assim como dezenas de ações judiciais dos produtores, contra o parque.
O Observa-MT já havia elaborado uma nota técnica alertando sobre a inconstitucionalidade do projeto, que você confere aqui.
Inviabilidade jurídica
À ocasião da audiência pública, Edilene Fernandes explicou ao produtores rurais presentes, que frente ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação, “essa medida é inconstitucional pois há uma metodologia de procedimento jurídico e técnico específicos para que seja feita a criação e também, para uma possível desafetação de área estabelecida como unidade de conservação. Neste caso o PDL não atende aos critérios constitucionais estabelecidos, o que só vai gerar inseguranças jurídicas”.
Ela estimulou os produtores rurais a cobrarem dos deputados estaduais, que atualmente discutem questões da Lei Orçamentária do Estado, a LDO, a destinação de recursos tanto para a proteção quanto para que alcancem os seus objetivos.
“Sem recurso para indenização, para fazer estudos, levantamento fundiário, não se chega a lugar algum”.
Então, sugeriu que se unissem e cobrassem da Assembleia Legislativa, do Executivo, para que houvesse reserva de recursos, que previssem estudos, além de um plano efetivo e detalhado para implementação das unidades de conservação no Estado.
Edilene explica que também é de interesse da sociedade que eventuais conflitos sejam resolvidos. “O Judiciário vai estar amarrado. E assim, ações não terão efeito. É preciso sentar com o governo e seguir o rito. Estabelecer um plano de conservação da unidade, cobrar recursos para que isso saia do papel e chegue ao produtor rural, com medidas de compensação, de indenização, com datas definidas”.
O parque que faz fronteira com a Bolívia, salvaguarda fauna e flora dos biomas Cerrado e Amazônia, em uma região próxima ao Pantanal do Guaporé. Além disso, possui cenários belíssimos que atraem turistas do mundo todo, como a mais alta cachoeira de Mato Grosso, a Cachoeira do Jatobá e o cânion homônimo de águas azuis.
A Casa Ninja Amazônia Tour passou por lá ao percorrer a rota Mato Grosso.
Some à luta contra a extinção do Parque Serra Ricardo Franco assinando o abaixo-assinado aqui.