Centenas de atingidos e atingidas pela barragem de Fundão, em Mariana (MG), fizeram mobilizações na capital mineira nesta quinta-feira (5), Dia da Amazônia. O grupo reivindicou a participação popular efetiva das vítimas do crime socioambiental causado pela BHP Billiton e Vale, donas da Samarco, que ocorreu em 2015, nos debates sobre a reparação dos danos causados. Cerca de 500 pessoas se concentraram na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), onde ocorreu uma audiência pública com representantes do governo federal, defensoria pública e integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) durante a manhã.

Na ocasião, cerca de 200 atingidos e atingidas que tiveram acesso ao Auditório José de Alencar denunciaram todas as consequências da tragédia com as quais diversas comunidades convivem há quase nove anos. Questões de saúde mental, física, contaminação de alimentos, endividamento financeiro e morte do Rio Doce foram expostas às autoridades presentes. A ausência das vítimas nas negociações da repactuação foi a principal pauta debatida no encontro.

“Onde está a Justiça do nosso país? Fecha a porta para o atingido e abre a porta para o assassino! Nós viemos aqui para falar que nós não aceitamos repactuação sem que o atingido sente na mesa! Eu não quero mais lamentar!”, disse a pescadora Rosa Alves, de Povoação (ES). Ela e tantos outros atingidos e atingidas de cidades do Espírito Santo e Minas Gerais foram ouvidos pela deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), que mobilizou a audiência pública após solicitação e articulação do MAB.

“Essas audiências, institucionalmente, foram os únicos espaços de escuta dos atingidos. Não vi nenhuma outra instituição fazer nenhum processo de escuta com a participação direta das pessoas”, disse a deputada. Presente de forma online, a representante da Secretaria-Geral da Presidência da República, Kelli Mafort, defendeu a participação das vítimas no processo de repactuação. “É fundamental para nós a participação dos atingidos na repactuação. Não temos nenhuma pretensão de representá-los”, afirmou.

Ato no TRF6 e marcha em BH

Por volta das 14h, o grupo que estava reunido na ALMG seguiu para um ato na porta do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6), onde representantes do MAB foram recebidos para uma reunião com o novo presidente da casa, Luiz Carlos de Azevedo Correa Junior. “Estivemos com o presidente do tribunal e ele se responsabilizou a entregar a pauta aos responsáveis (pela repactuação), ao desembargador Ricardo Rabelo, que coordena a mesa de repactuação”, disse Joceli Andrioli, integrante da Coordenação Nacional do MAB. “Nessa pauta, nós exigimos, pela nossa lei dos atingidos aprovada no Brasil (Política Nacional das Populações Atingidas por Barragens – PNAB), que os atingidos participem de qualquer tema relacionado aos próprios direitos”, completou.

Com cartazes, faixas e bandeiras que denunciavam também o sigilo das negociações do novo acordo, o grupo marchou do TRF6 até a Praça Sete, onde foi encerrado o ato, por volta das 18h. “Hoje, Dia da Amazônia, lutamos contra a impunidade dos crimes socioambientais e pelos direitos das populações atingidas pela tragédia de Mariana. Lutamos pelos povos tradicionais, pelo nosso Rio Doce! Mas, principalmente, lutamos por dignidade na reparação da tragédia que atinge até hoje milhares de famílias”, concluiu Thiago Alves, do MAB.