Trabalho escravo está associado a ‘falta de mão de obra’ e ‘sistema assistencialista’, diz nota de Entidade Industrial
Mais de 200 trabalhadores estavam vivendo em condições degradantes e trabalho análogo a escravidão
O Centro de Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves emitiu uma nota sobre o caso de trabalhadores em situação análoga a escravidão que foram recentemente resgatados. Na nota a entidade afirma que as vinícolas desconheciam a prática da empresa com trabalhadores terceirizados e temporários, e que se preocupa com o bem estar de seus colaboradores e trabalhadores. Mas ao final da nota, expõe que escravizar pessoas tem relação também com o fato de que há mão de obra inativa que não trabalha porque sobrevive de “um sistema assistencialista”, quase numa justificativa da manutenção da situação em que estas pessoas viviam, e como se a culpa não fosse de quem escraviza, mas sim, das pessoas que utilizam os programas sociais.
O trecho diz: “Situações como esta, infelizmente, estão também relacionadas a um problema que há muito tempo vem sendo enfatizado e trabalhado pelo CIC-BG e Poder Público local: a falta de mão de obra e a necessidade de investir em projetos e iniciativas que permitam minimizar este grande problema. Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade.”
pra elite da serra gaúcha, a culpa por manter os trabalhadores escravizados é do bolsa família!!!
são um bando de canalhas cruéis!
não pode ter qualquer tipo de conciliação com essa gente. são inimigos de uma sociedade mais justa e precisam ser tratados assim e derrotados pic.twitter.com/v1RTHTZjIH
— gustavo schwabe (@gustavoschwabe) February 28, 2023
Mais de 200 trabalhadores vindos da Bahia foram resgatados em um alojamento em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, onde estavam vivendo em condições degradantes e trabalho análogo a escravidão. Eles foram contratados por uma empresa que oferecia a mão de obra para as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi, Salton e produtores rurais da região. Durante o período que ficaram contratados, os trabalhadores contraíram dívidas porque só podiam comprar produtos em locais específicos e mais caros, tiveram suas famílias ameaçadas, foram agredidos com choques e spray de pimenta.
A empresa responsável é a Fênix Serviços Administrativos e Apoio a Gestão de Saúde LTDA. Pedro Augusto de Oliveira Santana, responsável pelo alojamento onde os trabalhadores viviam foi preso mas pagou fiança e vai responder em liberdade.
Dos trabalhadores, parte já retornou à Bahia, outros ainda vão voltar. Eles devem receber uma indenização até esta terça-feira, 28. Isso não retira os direitos trabalhista e não paga os contratos de trabalho.
ASQUEROSO! Entidade do comércio da cidade das vinícolas onde foram identificadas situações análogas à escravidão decidiu colocar a culpa na “falta de mão de obra” e no “sistema assistencialista”. A Casa Grande simplesmente não tolera até hoje o fim da escravidão!
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) February 28, 2023
O último parágrafo desta nota, sem o verniz hipócrita das notas oficiais, diz o seguinte: A falta de mão de obra fez com que escravizassem, pois os pobres vivem de Bolsa Família e poderiam estar trabalhando pra nós.
Não encontro palavras. pic.twitter.com/lGvnu19h27
— ElianA Alves Cruz (@cruz_elianalves) February 28, 2023