por Janayna Rodrigues

O avanço das mudanças climáticas já é sentido de forma concreta no cotidiano de profissionais que atuam em áreas externas e em serviços essenciais. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de 2,4 bilhões de trabalhadores estão expostos a calor excessivo em suas atividades, provocando um cenário crescente de adoecimento e insegurança. Todos os anos, o estresse térmico está associado a 22,85 milhões de lesões e 18.970 mortes, além de agravar doenças respiratórias e renais.

No painel Mudança Climática, Estresse Térmico, Impactos na Saúde e Segurança do Trabalho, realizado no Auditório Uruçu, na Green Zone, durante a primeira semana da Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças no Clima (COP-30), representantes de trabalhadores discutiram como esse aumento das temperaturas transforma rotinas laborais, amplia riscos e exige novas respostas do poder público e das empresas.

Entre as contribuições mais marcantes, esteve a fala de Eduardo de Vasconcellos Anunciatto, conhecido como Chicão, presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, reconhecido por sua atuação histórica na defesa dos trabalhadores do setor elétrico. Sua intervenção aprofundou os efeitos do calor extremo na segurança e na saúde dos trabalhadores, especialmente aqueles que atuam em campo, como eletricistas, equipes de manutenção urbana, agricultores e outros profissionais expostos diretamente ao sol.

Chicão destacou que a elevação das temperaturas intensifica riscos já existentes e cria novos cenários de vulnerabilidade, colocando em evidência trabalhadores que dependem da resistência física e da exposição prolongada para exercer suas funções.

Apresentou também o Plano Verão, iniciativa do Sindicato, construída a partir da construção coletiva com trabalhadores de diversas regiões do país.

O debate ainda trouxe elementos do relatório da OIT sobre Calor no Trabalho e Implicações para a Segurança e Saúde, apontando para a crescente incidência de problemas como hipertermia, desidratação severa, colapso térmico, falência de órgãos e outras condições agravadas pelo esforço físico em ambientes quentes. Nesse contexto, o indicador IBUTG (Índice de Bulbo Úmido – Termômetro de Globo) foi ressaltado como uma das ferramentas fundamentais para monitorar o estresse térmico e definir limites seguros de trabalho ao ar livre, especialmente em um cenário de aquecimento acelerado, foi levantada a discussão de medidas de precaução e prevenção a partir de alertas, monitoramento da ferramenta, entre outros.

Além dos aspectos técnicos, o painel evidenciou a dimensão política do problema. O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, destacou a necessidade de ampliar o debate sobre modelos econômicos e relações trabalhistas frente aos desafios climáticos. Em uma crítica direta à forma como se conduz o debate no país, ele indagou:

“É pontuado sobre empregos verdes, azuis… e cadê a remuneração verde? (…), No fim, é um questionamento de modelo econômico.”

Ao analisar o atual perfil do Congresso Nacional, o ministro reforçou:

“Não temos debate sobre o trabalho no Congresso brasileiro que não seja para tirar direitos.”

Marinho também enfatizou a importância da organização coletiva como resposta a esse cenário, defendendo que a consciência de classe é fundamental em um momento de intensificação das desigualdades e de pressões ambientais sobre o mundo do trabalho.

A mesa reforçou que pautas socioambientais precisam entrar com mais força nas negociações de acordos coletivos, ao lado de temas como igualdade salarial de gênero, adaptação climática, segurança no trabalho e proteção dos trabalhadores mais vulneráveis. 

Para os palestrantes, discutir clima é discutir direitos e isso exige reconhecer que as condições de trabalho são também condições socioambientais.

O painel concluiu que enfrentar o estresse térmico e seus impactos diretos no corpo e na dignidade do trabalhador é um desafio urgente. A crise climática não é apenas ambiental: é trabalhista, social e humana. E as respostas precisam ser construídas a partir da ciência, dos territórios e da participação ativa da classe trabalhadora.