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Timothée Chalamet encanta na pele de Bob Dylan em ‘Um Completo Desconhecido’
Veja como sutileza, vulnerabilidade e comprometimento garantiram vagas nas principais categorias do Oscar.
Por Noelle Pedroso e Cultura de Lamparina
Durante os anos 60, o folk atingiu seu auge. Entre acordes de violão e letras que falavam de tempos difíceis e esperanças futuras, o gênero se consolidava como a voz de uma geração. Mas toda revolução tem seus dissidentes, e foi nesse período que um jovem de pouco mais de 20 anos, Robert Allen Zimmerman – mais conhecido como Bob Dylan – estava prestes a mudar tudo. Um Completo Desconhecido, dirigido por James Mangold, propõe-se a explorar esse momento crucial na carreira do artista, desde sua chegada a Nova York, em 1961, até sua polêmica transição do folk para o rock no Newport Folk Festival de 1965.
O filme não se preocupa em entregar respostas definitivas sobre quem foi Dylan, nem em explorar os significados por trás de suas músicas. Em vez disso, faz um recorte específico do momento em que ele deixa de ser uma promessa do folk para se tornar um ícone do rock and roll – um recorte que se encaixa perfeitamente no título, uma referência à emblemática Like a Rolling Stone.
Timothée Chalamet, em uma performance que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator, desaparece por completo no papel de Dylan. A característica voz nasalada, o sotaque caipira, os óculos escuros e a postura encurvada compõem um retrato fiel do cantor. Mas é na sutileza que Chalamet brilha: sua interpretação não busca apenas imitar Dylan, mas capturar sua essência solitária, misteriosa e, por vezes, rude. Diferente de seu papel enérgico em Duna, aqui ele abraça a introspecção do personagem e, mesmo sendo um Dylan muitas vezes grosseiro, consegue seduzir o espectador. O comprometimento do ator também impressiona – foram cinco anos de preparação, nos quais aprendeu a tocar violão, piano, gaita e a cantar ao vivo.
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A presença de Edward Norton como Pete Seeger adiciona camadas ao filme. Seu personagem oscila entre o mentor protetor e o crítico ferrenho, e Norton transita entre essas dualidades com facilidade. Ele se mostra tanto um admirador incondicional de Dylan quanto um opositor convicto de suas ideias, deixando claro o impacto da mudança do artista no cenário musical da época.
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Sua companheira de cena e também indicada ao Oscar, Monica Barbaro, demonstra um bom domínio do canto e do violão, evidenciando um preparo cuidadoso para interpretar Joan Baez. No entanto, sua atuação, embora correta, carece do brilho e da força necessários para capturar a presença magnética da verdadeira Baez. Seu desempenho é funcional, mas sem grandes momentos que a tornem realmente memorável.
Por outro lado, Elle Fanning entrega uma performance arrebatadora como a fictícia Sylvie Russo, roubando a cena em diversos momentos ao longo da trama. Sua atuação transborda vulnerabilidade, revelada em olhares carregados de significado e em momentos de emoção contida, nos quais um choro estrangulado expõe, com precisão dolorosa, as camadas mais profundas de sua personagem. Em determinado ponto da história, Fanning transmite com maestria a inevitabilidade do desencantamento que surge com a convivência, tornando Sylvie não apenas crível, mas também uma das figuras mais impactantes do filme.
A direção de Mangold, conhecido por Johnny & June, novamente brilha ao retratar o universo musical. A fotografia em tons terrosos remete à estética folk dos anos 60, enquanto a trilha sonora transporta o espectador para a efervescência da época. O roteiro, que conta com alguns pitacos do próprio Dylan, não se esquiva de expor suas relações conturbadas e a dificuldade de se conectar com as pessoas. Dylan surge como um gênio incompreendido, um artista que buscava apenas ser ouvido, mas que, no processo, transformou para sempre a história da música.
Ao evitar respostas definitivas, a obra abraça o mistério que sempre cercou Bob Dylan, lembrando que, no fim das contas, ele continua sendo aquilo que sua música sempre sugeriu: um completo desconhecido.
Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.