Por Noelle Pedroso

Estreou esta semana no Prime o longa “Maníaco do Parque”, dirigido por Maurício Eça, que tenta apresentar uma nova abordagem sobre os crimes do assassino em série que aterrorizou São Paulo, nos anos 90. A trama é contada sob a perspectiva de Helena (Giovanna Grigio), uma jornalista fictícia que, ao investigar os assassinatos, busca dar mais voz às vítimas e desviar a atenção do criminoso. No entanto, apesar da nobre intenção, o filme tropeça em vários pontos e acaba se enredando em contradições que comprometem a força de sua narrativa.

Um dos principais problemas do filme é a superficialidade com que as vítimas são retratadas. Embora o propósito de valorizar suas histórias seja evidente desde o início, a abordagem acaba sendo rasa, sem o desenvolvimento adequado de suas trajetórias ou personalidades. Isso faz com que a tentativa de humanizá-las perca força, resultando em uma narrativa emocionalmente insatisfatória e que não alcança o impacto profundo que poderia ter proporcionado.

No entanto, o elenco é um dos pontos altos da produção. Silvério Pereira, que divide o protagonismo com Grigio, tem uma atuação forte e convincente, assim como todo o time de atores. Mesmo assim, a excelência do elenco não compensa a fraqueza do roteiro. O texto, muitas vezes, se perde em clichês de filmes de investigação, como as já batidas cenas de mapas mentais e recortes de jornal colados na parede, e o uso de discursos sociais que soam mais como um “textão de Facebook” do que uma crítica real e bem construída.

Tecnicamente, o filme também enfrenta problemas notáveis. A mixagem de som deixa a desejar, com diálogos difíceis de ouvir em alguns momentos, e os cortes mal executados prejudicam a fluidez das cenas, criando uma experiência visual desconjuntada. É como se a produção não conseguisse manter uma linha clara entre o que queria mostrar e o que, de fato, consegue transmitir.

A recriação dos anos 90 é bem executada, com uma caracterização que realmente transporta o espectador para aquela época, algo já demonstrado em outros trabalhos de Maurício Eça, como em “A Menina que Matou os Pais”. No entanto, a atmosfera de terror que assolou São Paulo durante os crimes não é devidamente capturada. O filme parece evitar expor o verdadeiro horror dos acontecimentos, possivelmente para não dar destaque ao assassino, mas esse distanciamento enfraquece a narrativa, diluindo a tensão e comprometendo completamente o impacto que a história deveria causar.

Outro ponto desconcertante é a contradição central da obra. Embora haja um esforço claro para desviar o foco do assassino e destacar as vítimas, o próprio título já comete um erro ao colocar o criminoso no centro da atenção. Apesar da tentativa de não glorificá-lo, o simples ato de narrar sua história acaba por elevá-lo ao foco principal, criando um paradoxo: o homem que buscava fama a qualquer custo obtém exatamente isso por meio de uma obra que, ironicamente, pretendia não lhe conceder esse espaço.

E as contradições não param por aí. A psicóloga Marta, em um momento, explica friamente o comportamento de psicopatas, dizendo que eles são controlados e calculistas. Logo em seguida, o filme corta para o assassino nervoso e fora de controle, criando uma incoerência entre o discurso e a prática. Já Helena, a jornalista que no início se mostra forte e determinada, acaba se tornando uma personagem descontrolada e emocionalmente instável à medida que o filme avança. Essa transformação enfraquece a mensagem que o filme queria passar sobre a força feminina em um ambiente machista, acabando por reforçar o estereótipo da mulher histérica.

“O Maníaco do Parque” é um filme que se envergonha do que quer ser: uma narrativa sobre um criminoso real, mas que, ao tentar desviar o foco para as vítimas, acaba se perdendo e se tornando uma obra sem personalidade. Ao final, resta uma sensação de frustração, com uma história que tinha potencial, mas que foi prejudicada por um roteiro raso, contradições internas e problemas de produção. Para quem viveu o terror da época, o filme deixa a desejar, e para quem busca um thriller instigante, faltam camadas e profundidade.

No fim, ao tentar equilibrar o foco entre as vítimas e o assassino, o longa acaba falhando em ambos os aspectos, deixando de lado a profundidade emocional e a carga dramática que uma história tão brutal poderia proporcionar. Com um elenco talentoso e uma produção visual competente, tinha potencial para ser mais impactante, mas tropeça em suas próprias contradições e escolhas narrativas. O resultado é uma obra genérica, que, apesar de suas boas intenções, não consegue deixar uma marca duradoura no espectador.

Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.