Por Aline Mattos

Celebrar o legado de The Notorious B.I.G., ou Biggie Smalls, é uma tarefa desafiadora. Muito já foi dito sobre sua vida e carreira, mas é ao mergulhar profundamente em sua obra e história que realmente compreendemos seu impacto. Nascido Christopher George Latore Wallace em 21 de maio de 1972, no bairro de Brooklyn, Nova York, Biggie transformou suas experiências difíceis em rimas que capturaram a imaginação de muitos. Filho único de Voletta Wallace, uma professora jamaicana, e Selwyn George Latore, um político e soldador que abandonou a família quando Biggie tinha apenas dois anos, ele foi criado pela mãe em Bedford-Stuyvesant, uma área conhecida pela pobreza e criminalidade.

Desde cedo, Biggie mostrou um talento inato para a música. Crescendo em um ambiente difícil, encontrou nas rimas uma forma de expressão. Começou a escrever suas próprias letras aos 12 anos e a participar de batalhas de rap nas esquinas do bairro durante a adolescência. Essas primeiras experiências ajudaram a moldar seu estilo lírico, conhecido por suas histórias vívidas e seu flow distinto.

A carreira de Biggie começou a tomar forma no início dos anos 1990. Em 1992, uma de suas fitas demo chamou a atenção do editor da revista The Source,  que o incluiu na coluna “Unsigned Hype”. Essa exposição foi crucial e levou Sean “Puff Daddy” Combs a descobrir e assinar um contrato com ele para a Bad Boy Records em 1993. A partir daí, Biggie começou a ganhar visibilidade, aparecendo em remixes e colaborações até o lançamento de seu álbum de estreia, Ready to Die, em 1994.

Ready to Die foi um marco na história do hip-hop. O álbum, que narra a vida de Biggie desde sua infância até sua ascensão como uma das principais figuras do rap, inclui sucessos como “Juicy,” “Big Poppa,” e “One More Chance.” As letras autobiográficas abordam temas como a luta contra a pobreza, o envolvimento com o crime, e a busca por sucesso, refletindo suas próprias experiências nas ruas de Brooklyn.

Biggie encontrou inspiração em diversos aspectos de sua vida. Sua infância difícil, observações sobre a vida nas ruas e sua ambição incessante para sair da pobreza e alcançar o sucesso foram fontes constantes para suas rimas. Além disso, ele foi influenciado por outros grandes nomes do rap, como LL Cool J e Rakim, e pela cultura pop, frequentemente fazendo referências a filmes e programas de TV em suas músicas.

Apesar de seu talento inegável e do sucesso meteórico, a vida de Biggie foi tragicamente interrompida em 9 de março de 1997. Após deixar uma festa em Los Angeles, ele foi baleado em um tiroteio enquanto estava parado em um sinal de trânsito. Seu assassinato continua sem solução, mas seu impacto na música e na cultura hip-hop permanece inquestionável.

A relação entre The Notorious B.I.G. e Tupac Shakur, que começou como uma amizade e acabou se transformando em uma rivalidade amarga, é um dos capítulos mais trágicos da história do hip-hop. A desconfiança de Tupac em relação a Biggie após um assalto em 1994 e a rivalidade entre as cenas de rap da Costa Oeste e da Costa Leste culminaram em uma série de diss tracks e confrontos públicos que apenas exacerbaram a tensão entre os dois.

Além de seus álbuns de estúdio, Ready to Die e Life After Death, lançado postumamente, o legado de Biggie é mantido vivo através de lançamentos póstumos e inúmeras homenagens. Ele continua a ser uma referência para novos artistas e suas músicas são celebradas como clássicos do rap. A influência de The Notorious B.I.G. no hip-hop é imensa, e sua presença é sentida ainda hoje, décadas após sua morte.

No aniversário de Biggie, refletimos sobre o impacto duradouro de sua obra e como ela continua a influenciar a cultura musical. Em uma época em que o rap se tornava uma força cultural dominante, Biggie ajudou a definir a narrativa e o som da Costa Leste com suas letras introspectivas e detalhadas.

Entre as muitas homenagens, destacam-se os tributos de artistas contemporâneos e a preservação de seu legado em documentários e filmes biográficos. Exemplos incluem o documentário Biggie: A lenda do Hip Hop da Netflix, que oferece uma visão íntima de sua vida e carreira, e o filme “Notorious B.IG – Nenhum sonho égrande demais” (2009), que dramatiza sua ascensão e queda e, “City of Lies” que aborda a investigação sobre seu assassinato. 

Além disso, a Fundação Christopher Wallace, fundada por sua mãe, Voletta Wallace, trabalha para honrar sua memória através de iniciativas que beneficiam a juventude e a comunidade. Essa dedicação à preservação de seu legado demonstra como Biggie transcendeu a música para se tornar um ícone cultural.

Celebrar Biggie não é apenas relembrar suas contribuições para o hip-hop, mas também reconhecer seu papel como um contador de histórias que deu voz a experiências compartilhadas por muitos que cresceram em ambientes semelhantes. Sua habilidade de transformar adversidade em arte continua a ressoar, inspirando novas gerações a seguir seus passos.

Neste aniversário, celebramos não apenas a vida e carreira de Christopher Wallace, mas também o impacto duradouro que ele teve na música e na cultura. Sua voz profunda e suas rimas afiadas continuam a inspirar e a emocionar, solidificando seu lugar como um dos maiores rappers de todos os tempos. Conhecer a vida e obra de Biggie é essencial para entender a profundidade de seu legado e a marca indelével que ele deixou no mundo.