Território protegido: Plano de Vida do povo Ashaninka prevê fortalecimento de patrulhas
Patrulhas têm tido bons resultados contra invasores, mas os Ashaninka acham importante fortalecer ações, principalmente, na fronteira com o Peru
Por Yara Luiza Piyãko, bolsista do Guardiões da Amazônia*
O povo Ashaninka da Terra indígena Kampa do rio Amônia atualizou o Plano de Gestão Territorial e Ambiental e o Etnomapeamento, o chamado Plano de Vida. O documento foi produzido em 2004 e 2005 em parceria com a Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre). A última atualização data 2016. Então, foi idealizada sua renovação.
Ao todo 180 pessoas participaram do grande encontro realizado na aldeia Apiwtxa, entre elas, anciãos e líderes indígenas e técnicos da CPI-Acre. Representantes das famílias que atuam em pontos estratégicos de vigilância e monitoramento do território indígena também marcaram presença, como das comunidades Rio Arara, Tawaya e Marco 40.
Além de incorporar ao documento novas demandas, um balanço de ações também apontou a necessidade de manter projetos ou aperfeiçoar outros. Segundo a avaliação dos líderes, os postos de monitoramento e patrulhamento no território, devem ser mantidos. Eles têm reduzido invasões de caçadores e madeireiros peruanos. Mas diante de constantes ameaças, consideram importante intensificar ações. Principalmente nas áreas de fronteira com o Peru, onde há mais registro de invasores. Assim, foram pensadas novas estratégias de ações de vigilância, afinal, a última atualização do Plano de Gestão ocorreu há seis anos, e muita coisa mudou com novas moradas, roçados e crescimento da população.
Também foi abordado a necessidade de continuar e ampliar o intercâmbio com comunidades do entorno da Terra Indígena.
Educação
No encontro também foi realçada a necessidade de escrever um Projeto Político Pedagógico da escola, para fortalecer e dar continuidade à educação escolar Ashaninka. Uma educação que amplie e garanta diversos espaços de ensinamentos, que seja bilíngue e voltada à realidade do povo. É importante preservar os conhecimentos tradicionais, na sala de aula e na oralidade, garantindo o uso da língua Ashaninka e também, de todas suas tradições.
Cultura
No que diz respeito à cultura, os Ashaninka consideraram importante manter os conhecimentos milenares que vêm sendo passado de geração a geração, desde o tempo antigo, como idioma, arte, músicas, rituais, danças, medicina e espiritualidade. Toda sua ciência e relação íntima com a natureza.
Saúde
A saúde Ashaninka também foi pauta do encontro. Os presentes debateram sobre a importância do uso da medicina tradicional, concordando que cada família deve enriquecer sua farmácia viva no quintal de casa e que devem fazer uso da medicina tradicional para o uso diário, nos tratamento de doenças e outras enfermidades. A tarefa de repassar os conhecimentos tradicionais será dos anciãos, para que os jovens possam dar continuidade a esses conhecimentos.
Mais mulheres engajadas
No encontro, teve muita participação feminina. “As mulheres têm muita força e estamos felizes por participar da discussão”, disse Dora Piyãko, agente de saúde e presidente da Cooperativa Ayõpare.
‘’As tsinani (mulheres) se dedicam ao território. A gente sabe que, historicamente, as mulheres cuidam das coisas internas da casa, como cuidar dos filhos e cozinha, por exemplo. Mas o que a gente está vendo é as mulheres ocupando espaços de decisões, contribuindo e ajudando na idealização das ações”, falou Guta Assirati, advogada e ex-presidente da fundação indigenista.
Do evento, participaram ainda, professores da educação indígena e consultores da Comissão Pró-Índio, Billy Fequis e Gleilson Teixeira.
* O Guardiões da Amazônia é um programa de formação de comunicadores da Casa Ninja Amazônia em parceria com o Comitê Chico Mendes e financiado pela Purpose Brasil e WWF Brasil