Termina hoje (29) o prazo que o Judiciário deu para indígenas Ava Guarani deixarem a área que retomaram em seu território ancestral no oeste do Paraná. Cercados por ruralistas e caminhonetes desde 5 de julho, os Ava Guarani afirmam, em entrevista ao Brasil de Fato, que vão “resistir até a última gota de sangue” aos despejos determinados pela Justiça.

Neste mês de julho, os indígenas fizeram sete retomadas dentro da área já delimitada da Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavirá, mas com o processo demarcatório estagnado, apurou a jornalista Gabriela Moncau.

Atendendo ao pedido de fazendeiros, o juiz João Paulo Nery dos Passos Martins, da 2ª Vara Federal de Umuarama, emitiu seis ordens de reintegração de posse, com o prazo para saída voluntária vencendo hoje, dia 29 de julho. “Essa reintegração de posse é a reintegração da morte. Porque nenhum Guarani vai recuar. Vamos permanecer aqui, aconteça o que acontecer”, afirma Noêmia, liderança Ava Guarani.

A TI Tekoha Guasu Guavirá, localizada nos municípios de Terra Roxa, Guaíra e Altônia (PR), teve seus 24 mil hectares identificados e delimitados pela Funai em 2018. No entanto, a continuidade do processo demarcatório foi suspensa por decisão judicial acatada a pedido das prefeituras de Guaíra e Terra Roxa. Durante o governo Bolsonaro, sob a presidência de Marcelo Xavier na Funai, os estudos da TI foram anulados.

Em 2023, com Joenia Wapichana à frente da Funai no governo Lula, os estudos foram validados novamente, mas a regularização do território ainda depende de uma decisão final em instâncias superiores. Osmarina Oliveira, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ressalta que o judiciário tem responsabilidade no processo de violência vivenciado pelos Guarani.

Os ataques contra os Ava Guarani intensificaram-se desde o início das retomadas. Em 7 de julho, um grupo de fazendeiros atacou a retomada tekoha Arapoty, queimando lonas e mantimentos dos indígenas. Em 15 de julho, um ataque na tekoha Tatury deixou três indígenas feridos, incluindo uma jovem que quebrou o braço. Uma liderança Ava Guarani, relatou que os fazendeiros cercaram os indígenas, ameaçando e queimando pertences, enquanto o socorro médico foi impedido de chegar por nove horas. Vídeos mostram produtores rurais cercando as retomadas, mesmo na presença da Força Nacional.

*Com informações do Brasil de Fato