Tensões nas Olimpíadas diante do movimento anti-turismo europeu
Moradores da Europa estão protestando contra o turismo e os franceses acreditam que sediar as Olimpíadas é algo ruim para o país.
Por: Yasmin Henrique
Paris está sediando os Jogos Olímpicos pela terceira vez em 2024. Dados da Taboola Newsroom, referência global em recomendações de conteúdo online, indicam que Paris é um dos destinos mais desejados pelos brasileiros, que querem estar perto do maior evento esportivo do mundo.
A capital francesa figura entre as 10 cidades mais visitadas do planeta, atraindo milhões de turistas anualmente. Em 2023, foram 15,5 milhões de visitantes, conforme a Euromonitor, e a expectativa é que esse número se mantenha durante os Jogos, segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI).
O conselho de turismo da cidade projeta que Paris receberá 11,3 milhões de visitantes durante as semanas dos Jogos Olímpicos, incluindo 1,5 milhão de turistas internacionais. Embora esse fluxo seja suficiente para garantir a lotação dos estádios, hotéis, companhias aéreas e agências de viagens, esperavam um aumento ainda maior.
O QUE PENSAM OS FRANCESES?
No entanto, quase metade dos residentes de Paris considera que sediar os Jogos Olímpicos de 2024 é uma “coisa ruim”, com preocupações principais voltadas para transporte e segurança. Uma pesquisa realizada pela Odoxa para Winamax e RTL, oito meses antes do evento, mostrou que 44% dos moradores da região de Paris têm uma visão negativa dos Jogos. Há dois anos, apenas 22% dos parisienses tinham uma opinião desfavorável, e atualmente mais da metade está considerando a possibilidade de deixar a cidade durante o evento.
No ano passado, Olivia Grégoire, ministra do Comércio, Artesanato e Turismo da França, anunciou que o país estava elaborando uma campanha para “desencorajar” a visitação em destinos já saturados. Ela destacou que aproximadamente 80% dos turistas que chegam à França se concentram em apenas 20% do território nacional.
“Havia a esperança de que os antigos modelos de turismo pudessem ser repensados durante a pandemia. O que se viu foi o contrário, uma tentativa muito imediatista de retomada, causada por uma forte demanda reprimida”, analisa o professor João Paulo Faria Tasso, do Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília (CET/UnB), que tem no “overturismo” (turismo em excesso) um de seus objetos de estudo.
MOVIMENTO ANTI-TURISTAS
Esse sentimento se manifesta em várias cidades europeias, onde os protestos contra o turismo estão crescendo. Embora a Europa seja o continente que mais atrai turistas internacionais, ela enfrenta desafios como a alta nos aluguéis, preços elevados para imóveis, o desaparecimento de comércios locais e questões ambientais.
O turismo desempenha um papel vital em muitas dessas cidades, contribuindo com cerca de 10% do PIB da União Europeia e criando aproximadamente 12,3 milhões de empregos. Segundo Sebastian Zenker, pesquisador da Copenhagen Business School, os residentes frequentemente não colhem os benefícios do turismo, especialmente quando os preços sobem e o comércio local desaparece.
Paul Peeters, especialista em turismo sustentável da Universidade de Breda, destaca que, apesar dos ganhos econômicos, os impactos negativos, como poluição e consumo de recursos, recaem sobre os residentes locais, intensificando a desigualdade e gerando conflitos entre moradores e turistas. Zenker complementa que, embora os residentes não desejem proibir o turismo, eles buscam um equilíbrio mais justo e sustentável.
TURISMO EXCESSIVO NO BRASIL
O fenômeno do “overturismo” tem sido amplamente debatido na Europa, e já há sinais de que também pode se tornar um problema crescente no Brasil. De acordo com o professor Tasso, alguns destinos nacionais enfrentam grandes desgastes em certos períodos do ano devido ao aumento acentuado do número de visitantes. Ele menciona áreas como Ilhabela e o litoral de São Paulo, Búzios e a Região dos Lagos, Jericoacoara e Fernando de Noronha como exemplos de locais afetados por essa situação.
O professor alertou que, no Brasil, esse debate ainda é pouco abordado, assim como a reflexão sobre o verdadeiro propósito da atividade turística. Segundo ele, o turismo não deve ser considerado apenas como um motor econômico ou uma ferramenta de desenvolvimento territorial. Por fim ressalta que deve ser benéfico tanto para os turistas quanto para as regiões que o recebem. No entanto, essa questão ainda recebe pouca atenção no país.