Por Mauro Utida

Foram precisos apenas alguns minutos de espera na fila de autógrafos no estande da Cia. das Letrinhas para entender a influência que a escritora Kiusam de Oliveira, autora da personagem Tayó, exerce sobre o público infantil na 26ª Bienal do Livro Internacional de São Paulo. A maioria dos fãs são crianças negras, mas também muitas crianças brancas que esperavam na fila ansiosas para conhecer e receber o autógrafo da escritora com a coroa da personagem que é marcada pela sua autoestima por ter o cabelo black power.

Ms. Kiusam é carismática – como a melhor das professoras que tivemos o privilégio de conhecer – e se emociona por cada criança que passa com seus familiares pedindo seu autógrafo no estande da Cia. das Letrinhas. Já era início da noite de sexta-feira (8) e ela estava no ritmo intenso de atender o seu público desde o início da tarde, até que conseguimos um breve tempo para uma entrevista com a educadora autora de “O Mundo de Tayó em Quadrinhos (2020)”.

Crianças se emocionam ao se encontrar com a autora de Tayó. Foto: Mauro Utida/Mídia NINJA

Neste curto tempo, ela falou sobre a literatura como função social e sobre o aumento da procura por personagens que se identificam com a cultura negra. “Eu posso afirmar que em meus 35 anos como educadora eu nunca vi crianças não negras querendo ser uma personagem negra, dizendo eu sou Tayó, eu quero ser Tayó”, diz ela sobre a personagem que tem orgulho de seu cabelo crespo e se tornou um fenômeno de vendas da Cia. da Letrinhas.

Tayó além de ser um fenômeno de vendas também tem um contribuição social muito importante para a atualidade, o maior exemplo são as crianças negras que quando encontram com Kiusam se emocionam com o primeiro contato com a “mãe” de Tayó, pois é visível a identificação e a representatividade que a personagem transmite. “Essa contribuição social vem do sentido de fortalecer a identidade de crianças, jovens e adultos que por tantas décadas e séculos não se viram devidamente representados no campo literário”, explica a educadora.

A educadora mostra preocupação em tratar de questões de gênero e de raça em suas histórias para o público infantil mostrando de forma educativa como a literatura pode contribuir com a luta antirracista e também como as crianças negras podem se sentir valorizadas como quaisquer outras. Para ela, esses assuntos são urgentes para serem debatidos porque não há mais espaço para o racismo na sociedade.

Em poucos minutos de conversa enriquecedora, a fila do público que aguardava um autógrafo da escritora se prolongou por alguns metros no corredor da Bienal e foi prudente deixar a continuação desta conversa para uma próxima entrevista, mas ficou claro o papel social e literário que a escritora tem desenvolvido na cultura infantil brasileira. Obrigado, Ms. Kiusam!

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