Taxa rosa | Até hoje, mulheres ainda pagam mais caro que homens por produtos similares
Ainda que tenham salário inferior ao dos homens, desigualdade de gênero contra mulheres persistem no mercado
Você já ouviu falar em taxa rosa – ou pink tax, como é mais conhecida? Ainda que seja batizada como taxa, não se trata de um imposto. O conceito mostra como alguns produtos direcionados para o público feminino custam mais caro, mesmo que sejam similares aos demais produtos ou que tenha pequenas adaptações. Muitas vezes a diferença é apenas a embalagem, feita para públicos de gêneros específicos. O rosa eventualmente custa mais caro.
O debate sempre volta à tona nas redes quando alguém flagra diferenças exorbitantes que permanecem no mercado. Nas vésperas do mês internacional das mulheres não seria diferente. Uma publicação recente da advogada e deputada federal Natália Bonavides provocou mais relatos de como, ainda que o debate seja permanente, as desigualdades de gênero ainda persistem – seja nos salários, seja na dita taxa rosa.
“A cobrança de valores diferentes por produtos idênticos já é discriminatória por si só, e numa realidade em que as mulheres ganham menos e são maioria da população empobrecida essa prática aprofunda a desigualdade de gênero no país, ou seja, inaceitável”, escreveu Natalia em comentário à republicação na NINJA.
Uma pesquisa da ESPM, realizada em 2018, foi amplamente divulgada como forma de mostrar, com indicadores, como funciona a desigualdade no mercado. Segundo a pesquisa, produtos rosas e/ou com personagens femininos são, em média, 12,3% mais caros do que os regulares.
“As mulheres, ao adquirirem tais mercadorias, pagam mais caro do que os homens, sem qualquer razão objetiva para isso”, escreveu a advogada Marina Valio. “Esse fato se agrava quando se tem em vista que, por serem discriminadas no mercado de trabalho, também ganham menos do que os homens. Assim, na prática, instaura-se uma tributação regressiva, mediante impostos sobre renda e consumo, o que se verifica, tanto em países periféricos como o Brasil, quanto em outros países ao redor do mundo”.
Em março de 2021, a jornalista Eliane Gonçalves, em uma reportagem da Rádio Nacional, da Agência Brasil, fez o teste na prática. “Pesquisamos os preços de produtos para homens e seus equivalentes para mulheres em diferentes setores. Farmácias, artigos esportivos, vestuário, acessórios para bebês e cabeleireiros. De 10 produtos pesquisados, em três lojas diferentes, todos tiveram preços mais altos para mulheres em pelo menos uma das lojas. De tênis esportivos a lâminas de barbear azuis ou de depilação cor de rosa”.
O levantamento mostrou uma diferença média de preço de 35% a mais nos produtos destinados a mulheres. “E muitos ainda tem a cor rosa”. Os comentários que temos recebido reforçam os indicadores:
“Eu fui prestar atenção nisso só agora que tive um menino. Tenho um casal e o enxoval da minha filha teve coisa igual só que mais cara, só porque era rosa ou destinado a menina”, escreveu uma leitora.
“Isso é em tudo! Como tenho dois filhos (um menino e uma menina) já tive que comprar vários itens similares pra ambos. Se compro algo pra ele e depois compro algo similar pra ela porém mais ‘feminino’ é SEMPRE mais caro. O que se torna um absurdo sendo que a funcionalidade é a MESMA!”
“Uma vez eu fui numa loja e tinha uma calça camuflada na sessão feminina por uns 160 dai fui na masculina e tinha uma muito parecida só que 70 conto e foi obviamente a que levei. Simplesmente, dá raiva essas coisas”
Conforme a reportagem da Agência Brasil, o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) publicou uma nota afirmando que, apesar dos fornecedores ou fabricantes terem liberdade de determinar o preço dos produtos, é possível questionar esse tipo de prática de diferenciação de preços por gênero. “A recomendação é reunir recibos e notas fiscais para comprovar a distorção e poder formalizar a reclamação nos órgãos de defesa do consumidor”.