Superando obstáculos: Impacto do Movimento Olímpico dos Refugiados
Em 2023, a crise humanitária forçou mais de 117 milhões a abandonar seus lares devido a conflitos e violações de direitos.
Por Grace Ketly Barbosa da Silva Lima, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
Conflitos, perseguições e desastres naturais levaram aproximadamente 100 milhões de pessoas ao deslocamento forçado. Os Jogos Olímpicos, por meio da Equipe de Refugiados estabelecida em 2015, oferecem a esses atletas refugiados não apenas a oportunidade de competir em alto nível, mas também um palco global para compartilhar suas histórias e inspirar milhões de pessoas, demonstrando que o esporte consegue unir e transformar vidas.
Após fugirem da guerra e da perseguição nos seus países de origem, 37 atletas de 11 nações estão competindo nos Jogos Olímpicos de Paris como parte da Equipe Olímpica de Refugiados. Esta é a terceira vez que a equipe de refugiados competirá, tendo participado anteriormente dos Jogos Rio de Janeiro 2016 e Tóquio 2020. A equipe quase triplicou de tamanho desde 2016, passando de 10 para 37 membros, e inclui atletas de 11 países que vivem e treinam em 13 países anfitriões.
Por que existe uma Equipe Olímpica de Refugiados?
A equipe foi originalmente criada para as Olimpíadas do Rio em 2016 como um símbolo de esperança e para chamar a atenção para a situação dos refugiados em todo o mundo. Esses atletas competem sob a mesma bandeira, mas falam línguas diferentes e vêm de diversas partes do mundo.
Em Paris, os atletas refugiados estarão no centro das atenções durante um período em que um número recorde de indivíduos foi forçado a abandonar as suas casas. Centenas de milhões de pessoas – muitas delas deslocadas à força – estão trabalhando para se reinventarem, tal como estes atletas o fizeram.
Em 2015, 65 milhões de pessoas foram deslocadas das suas casas em consequência de conflitos ou catástrofes naturais. Neste ano, mais de um milhão de refugiados entraram na Europa após fugirem das guerras no Médio Oriente, em África e na Ásia Central.
Durante as Olimpíadas Rio 2016, Yusra Mardini, uma nadadora síria que fugiu de seu país devastado pela guerra, é atleta símbolo da Equipe Olímpica de Refugiados. A sua participação atraiu uma atenção significativa dos meios de comunicação social, destacando a resiliência e a determinação dos refugiados. Em meio a sua fuga pelo mar Egeu, o motor do bote que levava ela e sua irmã parou de funcionar no meio do mar.
Yusra e sua irmã Sara pularam na água com mais duas pessoas que também sabiam nadar e empurraram o bote até Lesbos, na Grécia, por um período de três horas.
Numa entrevista à BBC Sport, Yusra discutiu o significado pessoal e coletivo da sua jornada e competição: “Cada vez que nado, lembro-me que não estou nadando apenas para mim, mas para todas as pessoas que estão sofrendo. Minha história não é apenas minha história; é a história de muitas pessoas que buscam esperança”.
Após o sucesso da equipe de 2016, o COI decidiu inscrever uma equipe de refugiados do COI nos jogos de Tóquio em 2020 (adiados um ano devido ao COVID-19). A Equipe Olímpica de Refugiados permite que os refugiados participem dos Jogos Olímpicos sob a bandeira do COI para “enviar uma mensagem de esperança para todos os refugiados do mundo”.
Como ser Elegível para a Equipe Olímpica de Refugiados do COI
Para serem elegíveis para a equipe olímpica de refugiados do COI, os atletas devem estar registrados como refugiados em seus atuais países anfitriões, reconhecidos pelo ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). Além disso, eles são patrocinados pelo comitê olímpico nacional daquele país, e muitos são patrocinados adicionalmente pelo Programa de Bolsas de Estudo para Atletas Refugiados da Solidariedade Olímpica. A criação da Equipa Olímpica de Refugiados coincide com a criação da Fundação do Refúgio Olímpico, que visa envolver um milhão de jovens deslocados à força na programação desportiva até final de 2024. Além da programação desportiva juvenil, a fundação investiu no bem-estar psicossocial e inclusão social dos seus atletas e noutras organizações desportivas dos deslocados.
Torcendo pelos atletas refugiados
Para apoiar a Equipe Olímpica de Refugiados em 2024, várias novas campanhas foram lançadas, oferecendo diversas maneiras de acompanhar e torcer pelos atletas. A Warner Bros Discovery, parceira de mídia do COI, criou a Home Crowd Initiative, que visa unir os torcedores em uma “torcida doméstica” pelos atletas refugiados. Além disso, a campanha 1 em 100 Milhões do COI visa destacar a singularidade de cada atleta no grupo dos mais de 100 milhões de pessoas deslocadas à força no mundo, incentivando os espectadores a conhecerem mais sobre suas jornadas individuais e o impacto que elas têm para outros refugiados globalmente.
A Warner Bros Discovery também utilizará seus serviços e plataformas de streaming para amplificar histórias de refugiados, por meio da programação Refugees’ Voice no Eurosport.com e documentários focados em refugiados em serviços de streaming como Max. O grupo de mídia também nomeou a Embaixadora da Boa Vontade do ACNUR, Yusra Mardini, uma refugiada síria e nadadora olímpica cuja história de vida e jornada atlética inspiraram o filme Os nadadores, como repórter do Eurosport dedicada à Equipe Olímpica de Refugiados.
Aprofundando a jornada dos atletas olímpicos refugiados, o mais novo filme do diretor indicado ao Oscar e refugiado sírio Waad Al-Kateab, ousamos sonhar, narra a vida e os desafios dos atletas no caminho para a qualificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020. Dare to Dream é uma produção da Violet Films, produzido em 2023 no Reino Unido e tem 98 minutos de duração. Ousamos Sonhar, em tradução livre Ao longo do documentário, o espectador conhece as histórias de Anjelina Nadai Lohalith (atletismo, Sudão do Sul), Cyrille Tchatchet II (Halterofilismo, Camarões), Saeid Fazloula (canoagem, Irã), Kimia Alizadeh (Taekwondo, Irã) e Wael Fawaz Al-Farraj (Taekwondo, Síria). Todos eles compartilham a experiência de terem sido forçados a se deslocar em algum momento de suas vidas.