Startup leva a comunidades indígenas mochilas que transformam água suja em potável
Instituto de impacto socioambiental tem levado kits de filtragem de água ao território Yanomami, uma alternativa para enfrentar a falta de água potável
O garimpo degrada as águas e prejudica as fontes de subsistência das comunidades impactadas, já que no processo de extração mineral, garimpeiros usam grande quantidade de água que advém de corpos hídricos e que depois é descartada com os químicos usados para a retirada do minério, como o mercúrio. Fatalmente, os rios são contaminados e a água fica imprópria para consumo.
É por isso que a segurança alimentar dos Yanomami está completamente comprometida. Tendo prejudicadas as práticas tradicionais de caça e pesca, eles também padecem da falta de água potável. Como uma solução ao problema, é que surge a ajuda humanitária do Instituto Água Camelo, que tem levado kits de filtragem de água ao território Yanomami.
“Você não consegue tratar malária, desnutrição e fome se não tem água limpa para beber, para cozinhar e dar remédio. A gente capacitou os agentes da Funai para levar esses equipamentos até às TIs para serem aplicadas em águas de igarapés mais altos e águas de poços artesianos”, explica um dos idealizadores da startup de impacto socioambiental. A seu lado estão ainda, Rodrigo Belli e João Piedrofita. Todos têm 25 anos.
Eles fundaram a empresa para colaborar, de forma concreta e eficaz, para mudar o cenário da falta de acesso à água tratada. Além de levar 50 kits para 30 aldeias Yanomami, eles entregam agora, duas miniestações de água para dois dos 32 polos estratégicos da Funai no território. No total de ações, com a ajuda de empresas, já distribuíram mais de 10 mil mochilas em dez estados, atendendo por exemplo, o povo Yawanawá, do Acre. Já no território Yanomami, somam forças com a Funai, a Frente Nacional Antirracista e a Central Única das Favelas – Cufa.
O Kit Camelo é composto por uma mochila que suporta até 15 litros de água por vez e um filtro de água portátil. Já a Central, é capaz de filtrar de 1 mil até 20 mil litros por hora. Nas duas soluções, as manutenções são feitas pelos próprios usuários e não necessitam da compra de peças ou assistência especializada, o que proporciona autonomia aos responsáveis pelos produtos e maior durabilidade das ferramentas. Enquanto o Kit é pensado para núcleos familiares, a central foi desenvolvida para impacto comunitário.
“Ambos eliminam 99,99% das bactérias, protozoários e partículas em suspensão, como microplásticos, sendo que a central elimina os vírus também”, explicam.
“Acreditamos no poder do design em criar ferramentas inovadoras para pessoas que precisam de soluções emergenciais. Por isso, nos propomos a estruturar essa cadeia que leva produtos de alta qualidade para as pessoas em situação de vulnerabilidade social, com alto valor agregado para empresas que estão fomentando essa transformação estrutural”, dizem os jovens ativistas que têm apoiado comunidades, de periferias a aldeias indígenas.
Em reportagem ao Jornal Nacional, Daniel descreveu que a situação no território Yanomami é certamente a mais grave que já viu. Falou também de como se sente em poder ajudar.
“É o cenário mais crítico que a gente já viu, com certeza, de violência, de doenças, de fome, de falta de acesso a todas as questões básicas. É um sentimento de estar dentro de um grande movimento em prol de pessoas que são tão importantes, e que no momento estão sendo atacadas e precisam ser protegidas”.