Por Laura Dozza Reis

Os Jogos Olímpicos sempre nos brindam com histórias especiais e Paris 2024 não será diferente. Carinhosamente apelidada de “Tia Tânia”, a mesa-tenista Zhiying Zeng, medalhista de bronze nos Jogos Pan-Americanos Santiago 2023, fará a sua estreia na competição, tornando-se a oitava atleta mais velha a disputar uma Olimpíada.

Nascida na China em 1966  e filha de uma treinadora de tênis de mesa, começou a jogar tênis de mesa aos 09 anos e aos 11 tornou-se profissional após ser selecionada para o time de elite da Escola Militar de Pequim, onde jogou até aos 15. Em 1983, integrou a seleção chinesa de tênis de mesa e sonhava com os Jogos Olímpicos, porém, em 1986, com a introdução da “regra das duas cores” com a qual os adversários conseguiriam prever a velocidade e direção da bola – as raquetes passaram a ser bicolores, identificando as diferentes superfícies que tornam o jogo mais rápido, menos rápido, com mais ou menos efeito. Diante das dificuldades para se adaptar, ela optou por se aposentar do tênis de mesa profissional aos 20 anos.

 “A regra matou o meu jogo”, contou Zeng em entrevista ao The Guardian, “Eu me senti fraca, psicológica e tecnicamente.”

Foi pouco depois dessa decisão que Zeng recebeu um convite para ser treinadora de tênis de mesa no Chile e abraçou a oportunidade, apesar de não ter durado muito. Mesmo afastada do esporte, a atleta continuou no país sul-americano, adotou o nome de Tânia, para facilitar a pronúncia aos chilenos, constituiu família e também se tornou empresária.

Foto: World Table Tennis

O reencontro com o esporte e a classificação olímpica

Apesar da decisão de Zeng de se afastar do tênis de mesa, o destino ainda não tinha encerrado a sua história e a sua relação com o esporte. O sonho de criança ainda iria se realizar. 

Foi durante a pandemia da Covid-19 que um novo caminho apareceu. Como forma de acalmar a inquietação diante o rigoroso bloqueio no Chile, Zeng comprou uma mesa e jogava tênis de mesa sozinha em casa por horas todos os dias. Quando a situação melhorou, ela disputou torneios locais para se divertir, vencendo todos eles sem esforço. 

“Sempre pratiquei esportes. E disse a mim mesma, por que não fazer tênis de mesa, que é o meu forte? Então retomei a paleta”, explicou Zeng para o olympics.com. “Comecei jogando com jogadores de Iquique (cidade onde mora), no norte do Chile. Treinávamos todos os dias, jogávamos partidas, torneios…”. E mesmo com o retorno, Zeng não pensava tentar a seleção chilena, “Eu não tinha ideia de que isso era possível”. Até que em 2023, o destino a reencontrou, tornou-se a jogadora feminina mais bem classificada do país e conquistou uma vaga na seleção nacional do Chile.

Foto: Federação Chilena de Tenis de Mesa

Quando o Chile sediou os Jogos Pan-Americanos em 2023, Zeng surgiu como heroína nacional – sendo a atleta mais velha de todo o torneio e conquistando medalhas. Foi também durante o Pan que ganhou o carinhoso apelido de “Tia Tânia”, sendo muito querida no país.

“Na minha idade, você tem que jogar com alegria, não com angústia”, enfatizou ao The Guardian, afirmando o orgulho de representar o Chile. “Eu amo este país. Não alcancei o meu sonho na China, e alcancei aqui. É importante não desistir”.

Da medalha no Pan à classificação olímpica o caminho pareceu natural. Zeng confirmou a conquista durante o pré-olímpico disputado em maio deste ano, em Lima, no Peru, ao vencer a atleta da Guatemala, Lucía Cordero por um impressionante 4-0 com parciais de 16-14, 11-3, 11-3, 11-3.

Foto: World Table Tenis

O apoio do treinador e amigo

O treinador e amigo de Zeng, Juan Lizana, também diretor da Federação Chilena de Tênis de Mesa, contou ao The Guardian que Zeng se destaca sob pressão “ela sempre vencerá os pontos difíceis, como o último num set empatado. Ela é calma”.

E mostrou ser mais um entre os inúmeros fãs que “Tia Tânia” conquistou. “Ela se aposentou do esporte por 20 anos e, em um ano, venceu o Sul-Americano, depois o Pan-Americano e agora vai para as Olimpíadas.” destacou Lizana chamando Zeng de “exemplo global”.

Medalhista Pan-Americana, dona de uma grande história com desafios e muita perseverança e após percorrer um longo caminho, Tânia Zeng busca preencher mais um quadro na sua história e conquistar a primeira medalha olímpica no tênis de mesa para o Chile. 

“Se há 1% que podemos ganhar, lutaremos por esse 1%”, contou animada durante entrevista ao Canal CDO.

Vídeo: Instagram Canal CDO

Acompanhe o Tênis de Mesa em Paris 2024

Extremamente popular na Ásia, o tênis de mesa é praticado por mais de 40 milhões de pessoas em todo o planeta, o que o torna um dos esportes mais populares do mundo.

Em Paris 2024, os jogos do tênis de mesa iniciam no dia 27 de junho, com as primeiras disputas por medalhas agendadas para o dia 30. As partidas acontecem na Paris South Arena. 

O Time Brasil será representado por seis atletas, com destaque para Hugo Calderano, um dos cabeças de chave da competição e candidato ao pódio, Guilherme Teodoro e Vitor Ishiy. E no feminino, Bruna Takahashi, Giulia Takahashi e Bruna Alexandre.