Por Davi Maia

Letícia Fialho é cantora e compositora brasiliense de ímpar ligação com o encanto – e o encontro – da rua e do seu interior. Ligada à nova cena da MPB, de Brasília, Letícia mantém conexão com o centro-oeste em sua poesia cantada. Com o lançamento marcante do disco “Maravilha Marginal”, em 2018, Letícia projetou sua obra para além das fronteiras regionais.

Alusões ao jazz no uso de trompetes, somados à impureza dos sintetizadores e a organicidade do violão e percussões brasileiras moldam uma roupagem musical característica, suave, doce e calma, e sem redundância. Ela assina suas próprias composições musicais, mas atribui um valor ainda maior ao uso certeiro da palavra para elevar sua obra.

Depois de passar por uma graduação em Letras na UNB, Letícia Fialho se aproximou da poesia contemporânea, sintética e imagética. Em entrevista apresentando o disco num passeio sonoro na Rádio Câmara, a artista observou que, em sua composição, o mais importante, para além dos arranjos e da harmonia, era a palavra.

Longe da materialidade, a levada de Letícia Fialho se apega ao significado das pequenas coisas, desde a boemia das ruas até a natureza ao nosso redor. Ressignificando seu olhar para o espírito do Carnaval, vive o estado de afeto e conexão da época de fevereiro e março como algo permanente, intrínseco a nós. 

Um dos temas mais explorados no disco da artista com a Orquestra da Rua tem origem: Letícia participou ativamente de um bloco de carnaval de destaque na cena local, o “Essa Boquinha Eu Já Beijei”, que era formado por quase 20 mulheres do cenário brasiliense, a exemplo da DJ Tamara Maravilha.

No disco, reunindo músicos de Brasília, como Paulo Black, e promovendo encontros musicais marcantes, “Maravilha Marginal” também lida com questões de sensibilidade racial e de gênero. A última faixa do disco, “Rua Afora”, conta com a participação da rapper Dani Nega, de São Paulo.

Principal destaque, “Corpo e Canção”, uma das composições conjuntas com Luara Learth, alcançou milhões de reproduções nas principais plataformas de streaming, e no último ano também aumentou sua repercussão internacional através de versões eletrônicas produzidas em cima da base vocal minuciosa de Letícia Fialho.

Maz e Antdot, dois produtores de afro house brasileiro, assinaram a “Club Mix” da faixa, que chegou a figurar na lista Viral – Brasil do Spotify graças ao sucesso recente nas redes sociais, e rodou as principais pistas e festivais mundo afora, pluralizando a mensagem da artista para novos públicos e momentos diversos de celebração.

Desde o lançamento do disco de estreia, Letícia Fialho também lançou novidades alinhando seu som com o hip-hop, com artistas como Yago Oproprio e Puro Suco (Murica e Prs), mas manteve seu espaço bem definido, entre a leveza da MPB e a musicalidade efervescente do estado de Carnaval.