
SOM Indica: Cataflô, duo mineiro que une música e transformação social
Duo mineiro, formado por Mayra Oliveira e Nanda Sant’ana, combina responsabilidade social, poesia e música.
por Giulia Reis
Entre poesia e muita arte, Mayra Oliveira e Nanda Sant’Ana tiveram seus caminhos cruzados na faculdade de Psicologia e, desde então, passaram a trilhar uma trajetória admirável juntas. A dupla, que hoje forma o duo Cataflô, encontrou na arte e nas ações sociais o seu propósito.
Coordenadoras do projeto social Origem Instituto, o duo se divide entre a música e a missão de promover, na comunidade de Veredas, em Ribeirão das Neves, o acesso à cultura e à educação. Seus primeiros passos aconteceram dentro do próprio projeto e, hoje, já com alguns singles lançados, Mayra e Nanda entregam ao público um som sensível e inspirador.
Com uma sonoridade que passeia entre a brasilidade e a simplicidade do voz e violão, o Cataflô apresenta delicadeza e potência, explorando temas como esperança, beleza do cotidiano e a força do sonhar. A parceria, nascida com o propósito de transformar vidas, mostra que a arte também é um caminho para isso. Com sensibilidade poética e responsabilidade social, o duo colhe o reconhecimento por uma arte que inspira e transforma.
Confira o bate-papo que o S.O.M (Sistema Operacional da Música) — canal de música da Mídia Ninja — teve com o duo Cataflô. E fique até o final para descobrir a novidade em primeira mão.
S.O.M: Vocês se conheceram na faculdade de Psicologia, viraram amigas e hoje são cofundadoras do Origem Instituto e formam o duo Cataflô. Quando os caminhos de vocês se cruzaram e como foi o processo de entender que queriam trabalhar juntas tanto na ONG quanto na música?
Cataflô: Em 2014, nossos caminhos se cruzaram na faculdade de Psicologia. Desde o início, nos identificamos por dois pontos em comum: a arte e o trabalho social. Tocávamos em eventos e palestras da faculdade e, nas atividades das disciplinas, sempre buscávamos inserir a arte — fosse pela música ou pela escrita.
Esses encontros nos aproximaram ainda mais, mas o grande divisor de águas foi o estágio em um mesmo projeto social. A partir dali, nos unimos não apenas como grandes amigas, mas também como profissionais que acreditavam na possibilidade de transformar pequenos mundos e oferecer oportunidades de sonhar.
Toda nossa trajetória acadêmica foi marcada por trabalhos sociais que, quase sempre, dialogavam com a arte. Depois de formadas, o sonho de continuar construindo juntas era grande. Em 2018, iniciamos um trabalho voluntário com oficinas de teatro — também temos formação na área (risos). Com o tempo, mais pessoas se mobilizaram para oferecer outras oficinas, e o projeto foi tomando forma. No início de 2020, o sonho se tornou realidade: nascia o Origem Instituto, em Ribeirão das Neves, com o propósito de transformar realidades por meio da cultura e da educação.
Nessa época, já tínhamos algumas composições autorais guardadas na gaveta. Foi durante ações beneficentes do Origem, com pocket shows de arrecadação, que o Cataflô começou a tomar forma. Fizemos cinco edições, ainda sem nome definido e sem muita coragem de bancar esse outro sonho adormecido. Mas, em 2024, em um ato de ousadia, escrevemos nosso primeiro edital para realizar o videoclipe de “Memória de um dia que virá”, protagonizado por crianças e adolescentes do Origem.
Dali em diante, nos fortalecemos como arteiras cantantes, contadoras de histórias. Em 2025, seguimos ativamente na gestão do Origem Instituto e, paralelamente, desenvolvemos os trabalhos do Cataflô, pulsando entre sonhos e ações — fazendo da arte um caminho de encontro e transformação.
S.O.M: O nome Cataflô vem do ato de catar flores. Qual o significado desse nome para vocês e o que ele representa na nova MPB?
Cataflô: O nome nasceu da imagem simples e genuína de catar flores pelo caminho. Cada flor colhida é uma memória, um gesto de cuidado, uma delicadeza diante do mundo e de suas grandezas e miudezas. Para nós, esse nome traduz a nossa forma de existir na música: recolher as pequenas belezas do cotidiano e transformá-las em canção.
Assim, o Cataflô representa o movimento de entrelaçar poesia e resistência, de abrir caminhos onde a música não é apenas entretenimento, mas também encontro, afeto e pertencimento.
Vemos a música como um jardim — cada letra é um convite para que as pessoas se reconheçam como flores: diversas, fortes, frágeis e cheias de memórias e belezas colhidas ao longo da vida.
S.O.M: Como funciona o processo de composição das músicas? Vocês têm um momento específico para escrever? Contem como foi o processo de criação dos três singles lançados.
Cataflô: A música, para nós, veio junto com a expansão do Origem. O afeto entre nós fez com que as composições refletissem nossos momentos, desejos, inquietações e gritos que, muitas vezes, foram silenciados. Por isso, o processo criativo não segue uma regra — ele nasce das vivências, do encontro e dessas identificações.
Por exemplo, “Janela” surgiu na pandemia, após assistirmos a uma conversa entre duas compositoras que admiramos. Elas propuseram o tema “janela” como ponto de partida para composições. Sentadas no chão do quarto, com o violão e algumas ideias, nasceu uma das primeiras músicas que mostramos aos amigos. Com o tempo, a canção ganhou novos significados, conforme cada pessoa nos contava o que era, para si, uma janela.
Já “Memória de um dia que virá” nasceu da vontade de aproximar ainda mais a arte do nosso cotidiano. A canção fala sobre as forças que nos impulsionam — a arte, a simplicidade e a fé —, sobre trazer à tona memórias do que ainda não existe, mas que já pulsa dentro de nós.
Cada composição, nesse caminho como duo, conta um pedaço da vida, das inquietações e das belezas que coletamos ao longo da trajetória.
S.O.M: Vocês apresentam um som muito rico. Quais artistas influenciaram o som e as composições do Cataflô?
Cataflô: Somos suspeitas para falar, mas a música mineira, com toda sua poesia e delicadeza, é uma das nossas maiores referências. Crescemos ouvindo Clube da Esquina, Milton Nascimento, Vander Lee, Skank e Jota Quest, vozes que nos acompanham desde a infância e adolescência.
Na juventude, artistas como Marcos Almeida, Lorena Chaves, Lamparina, Lagum, Da Parte e outros nomes da cena autoral mineira foram se somando às nossas influências.
Também nos inspiramos em Djavan, Gilberto Gil, Tim Maia, Maria Gadú, Mestrinho, Jota Pê, Joyce Alane, 5 a Seco, Coletivo Candieiro, entre muitos outros. Eles nos ensinaram a transformar sentimentos em melodias que tocam.
Nosso ouvido é eclético — nossas influências passeiam pela MPB, pela música regional e por sonoridades contemporâneas. Gostamos de explorar a brasilidade nas pequenas coisas: no cotidiano, na natureza, nas relações.
A “mineiridade” está não apenas nos arranjos e nas letras, mas também na vontade de fazer uma música que acolhe, que conversa de perto — olho no olho, som no som.
S.O.M: O que podemos esperar dos próximos lançamentos de Cataflô? Vocês pretendem lançar mais singles ou algo maior, como um EP ou álbum?
Cataflô: Vem notícia boa por aí! E, em primeira mão, contamos para vocês que está chegando o primeiro EP do Cataflô. Já estamos bem envolvidas nesse processo, preparando tudo com muito carinho junto à nossa produtora musical Maria Mônica.
Em breve, o público poderá acompanhar tudo de perto — com direito a um show de lançamento no início do próximo ano. O projeto está ficando lindo, cheio de narrativas e sentidos que desejamos compartilhar, trazendo todo mundo para mais perto das nossas canções. Assim, vamos celebrar juntos o nascimento de “Entre Ventos e Versos”.