Sob Bolsonaro, Brasil já desmatou uma área do tamanho do Estado do Rio de Janeiro
Relatório anual da MapBiomas informa que a Amazônia concentrou 59% da área desmatada no país entre 2019 e 2021. Em 2021 foram 1,9 hectare por minuto, ou 18 árvores por segundo.
Relatório anual da MapBiomas informa que a Amazônia concentrou 59% da área desmatada no país entre 2019 e 2021. No último ano foram 18 árvores por segundo
Por Mauro Utida
Durante os anos em que Jair Bolsonaro (PL) esteve à frente da Presidência da República, o Brasil perdeu quase um Estado do Rio de Janeiro de vegetação nativa. Entre 2019 e 2021, a área desmatada alcançou 42 mil km2, quase a área do Estado do Rio de Janeiro.
Os dados deste período são do Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas, publicado nesta segunda-feira (18). Apenas em 2021, o país perdeu 16.557 km2 de cobertura de vegetação nativa em todos seus biomas, trata-se de um aumento de 20% em relação ao ano anterior. Ao longo de 2021, o Brasil perdeu 189 hectares de vegetação nativa a cada hora.
Os números mostram que a atividade agropecuária respondeu por 97,8% da área desmatada do país entre 2019 e 2021, o restante dos territórios sofreu desmatamento por garimpo, mineração, expansão urbana, entre outros. No Pará, o garimpo foi um expressivo vetor de pressão. O relatório denuncia que apenas 1% das ações de desmate é legal e embargos e autuações feitos pelo Ibama e ICMBio até maio de 2022 atingiram apenas 2,4% do desmatamento e 10,5% da área desmatada identificada entre 2019 e 2021.
Segundo o MapBiomas, apenas 0,9% dos imóveis rurais concentram 77% da área desmatada no país em 2021, o que representa poucos atores somando gigantescas áreas de desmatamento. Isto porque estes imóveis são registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e em pelo menos três quartos dos desmatamentos é possível encontrar um responsável. “O Governo Federal age para evitar autuações e escolhe por proteger os 2% que desmatam, causando impacto para todo resto da população”.
Amazônia: 18 árvores por segundo
Os números não deixam dúvidas de que a Amazônia foi a grande frente de supressão da vegetação nativa do Brasil nos últimos três anos. Dados mostram que esse bioma concentrou 59% da área desmatada. Em 2021, foram 16.557 km² de área desmatada, o número é 20% maior do que o ano anterior. O número equivale a 1,9 hectare por minuto, ou 18 árvores por segundo.
Com este número altíssimo, o Amazonas pulou de quarto para o segundo Estado que mais desmatou em 2021, perdendo apenas para o Pará, que concentrou 24% do desmatamento do país no ano passado, seguido por Mato Grosso (11,5%), Maranhão (10%) e Bahia (9%). Juntos, os cinco estados respondem por 67% da área desmatada no Brasil em 2021.
A Amazônia também foi o biomas mais atingido pelo desmatamento, representando 59% do total desmatado no país, seguido pelo Cerrado (30%), Caatinga (7%), Mata Atlântica (1,8%), Pantanal (1,7%) e Pampa (0,1%).
Quase um quarto (23,6%) do desmate no Brasil em 2021 fica no Matopiba, onde também se registrou um aumento de 14% da área desmatada em relação a 2020. Foram 5.206 alertas e 391.559 ha desmatados. A região do Matopiba foi onde se concentrou a maior parte dos desmatamentos no Cerrado: cerca de 73%. Já na nova fronteira do desmatamento da Amazônia – a região que está ficando conhecida como Amacro (na fronteira de Amazonas, Acre e Rondônia)- a área desmatada representou 12,2% no total do Brasil em 2021, com 6.858 alertas e 203.143 ha desmatados. Em 2021 apresentou 28,8% de incremento do desmatamento em relação a 2020.
Terras indígenas
Entre 2019 e 2021, as terras indígenas foram a única categoria fundiária que não sofreu aumento do desmatamento, o que reforça a importância desses territórios para a preservação ambiental. Os aumentos mais expressivos foram em áreas de vazio fundiário(88%), áreas públicas não destinadas (47%) e áreas privadas (32%).
No Brasil 69,5% de toda a área desmatada em 2021 estavam em propriedades privadas, incluindo 14,1% em assentamentos rurais. Outros 10,6% recaíram sobre glebas públicas, sendo 9,3% em terras públicas não destinadas. O desmatamento em áreas protegidas respondeu por 5,3% do total, sendo 1,7% nas Terras Indígenas e 3,6% nas Unidades de Conservação.
Impunidade
Para o coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo, para resolver o problema da ilegalidade é necessário atacar a impunidade — o risco de ser penalizado e responsabilizado pela destruição ilegal da vegetação nativa precisa ser real e devidamente percebido pelos infratores ambientais.
“Para isso, é preciso atuar em três frentes, assegurando que: todo desmatamento seja detectado e reportado; todo desmatamento ilegal receba ação de responsabilização e punição dos infratores (ex. autuações, embargo); o infrator não se beneficie da área desmatada ilegalmente e receba algum tipo de penalização (ex. restrições de crédito, pendência do CAR, impedimento de regularização fundiária, exclusão de cadeias produtivas)”, informou.
Sobre o relatório
Este relatório é o terceiro de uma série que tem a finalidade de consolidar e analisar as informações sobre todos os desmatamentos detectados nos seis biomas brasileiros, pelos múltiplos sistemas de alertas disponíveis, e que foram validados, refinados e publicados pelo projeto MapBiomas Alerta.
O estudo, que refinou e validou 69.796 alertas de desmatamento em 2021 em todo o território nacional, avaliou individualmente cada evento de desmatamento cruzando com dados de áreas protegidas, autorizações e cadastro ambiental rural (CAR) e encontrou indícios de irregularidades em mais de 98% dos casos.