Parte dos sentimentos que levam ao adoecimento das comunidades LGBTQIAPN+ são uma resposta a pressões impostas pela sociedade, com sua indiferença, rejeição, preconceitos estruturais e discursos de ódio

O Brasil é o 8º país do mundo em número absoluto de pessoas que tiraram a própria vida (Foto: Emma Rahmani | baseimage)


Por Marcos Souza

As ações de prevenção ao suic1di0 no mês de setembro têm sido cada vez mais presentes, mas ainda não tira o Brasil do posto de 8º país do mundo em número absoluto de pessoas que tiraram a própria vida, sem levar em consideração as subnotificações.

Ao olhar os dados de pesquisas da população LGBTQIAPN+, inclusive brasileiras, há apontamentos da prevalência de depressão e risco de suic1di0 das pessoas da comunidade em comparação com pessoas cisgêneras heterossexuais, o que, por hipótese, está associado ao preconceito e situações de discriminação vividas constantemente. Ser uma pessoa LGBTQIAPN+ no Brasil não é fácil. Nunca foi. Ainda mais quando nos percebemos sendo o alvo, estando sozinhes e desesperançoses.

Desesperança é um estado emocional que impede a possibilidade de pensar e ter perspectivas sobre o futuro. E se a pessoa não vê motivo para ter algo no futuro, não há nada em que precise se esforçar ou fazer no presente momento para sair deste lugar onde está. Não há conexão. A solidão, assim como o isolamento, são também fatores de risco que podem ser potencializadores para pensamentos e movimentos suic1d@s.

Parte destes sentimentos é resposta das pressões impostas pela sociedade, com sua indiferença, rejeição, preconceitos estruturais e discursos de ódio direcionados à comunidade. Pessoas LGBTQIAPN+ não “só se suic1d@m”. Elas são suic1dad@s por essa sociedade machista, misógina e patriarcal, principalmente a população trans e travestigênere.

Você já experienciou momentos ou esteve em relações com pessoas que demonstraram parte desses sentimentos e sensações? Como é possível criar e olhar atentamente para a rede de segurança que pode auxiliar nestes momentos difíceis?

(Foto: Marcos Souza | Arquivo Pessoal)

Neste contexto, a rede de segurança é composta por pessoas que estão conectadas existindo, e resistindo, como apoio, influência e resguardo em momentos importantes, assim como também naqueles momentos que são rotineiros. É quem se preocupa, quem de algum modo demonstra interesse no que você tem a dizer, quem procura quando percebe suas ausências, quem manda uma mensagem, sem necessariamente cobrar pela resposta.

Da mesma maneira que é importante então perceber quem é a sua rede de segurança, vale a provocação de inverter o papel e se colocar a pensar: de quem eu posso ser parte da rede de segurança? Uma comunidade se fortalece através da necessidade das pessoas que fazem parte.

Reitero aqui que essa rede tem a função de dar suporte para quem precisa. Não é possível eliminar a dor das pessoas, mas podemos, juntes, dividir parte desse sofrimento e demonstrar empaticamente que ninguém precisa, e nem deve, suportar determinadas situações só.

Pedir ajuda e oferecer ajuda são passos importantes para salvar vidas.

Marcos Souza é psicólogo clínico com atendimentos focados à população LGBTQIAPN+

Foto: arquivo pessoal

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