Por Isabella Rodrigues

O Estado brasileiro ainda não respondeu às perguntas fundamentais: Quem mandou matar Marielle e por quê? Essa foi a questão central durante o Seminário Internacional “5 Anos de Luta por Marielle e Anderson”, que aconteceu entre os dias 20, 21 e 22 de setembro na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. O evento marcou 2.000 dias desde o brutal assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. Mas também representou um ponto de encontro para reflexões críticas e estratégias de solidariedade internacional diante da persistente violência política.

O encontro reafirmou a necessidade de unir forças e pensar nos próximos passos na busca por justiça. Foram realizadas oito mesas de debate abordando temas como a racialização do discurso de direitos humanos, o papel da Organização das Nações Unidas (ONU) na proteção dos defensores dos direitos humanos, a impunidade em casos de homicídios, estratégias de busca por justiça em casos de feminicídio político e o genocídio da população negra.

Uma das principais metas do seminário foi promover a conexão entre organizações da sociedade civil, defensores de direitos humanos, juristas e outros atores do sistema de justiça, tanto no âmbito nacional quanto internacional, que estão engajados na busca por justiça em casos de violência política de gênero e raça, bem como de crimes contra a vida de defensores de direitos humanos, especialmente mulheres negras, na América Latina.

Anielle Franco, Ministra da Igualdade Racial e irmã de Marielle Franco, esteve presente junto de seus familiares. Anielle compartilhou sua visão sobre a importância da representação de mulheres negras na política e em cargos de liderança, pontuando que sua luta é para que mais mulheres negras ocupem espaços essenciais na política, no Supremo Tribunal Federal, e até mesmo na presidência. A ministra também enfatizou a necessidade de honrar e reconhecer as mulheres que atualmente estão fazendo história na política. “Os nossos passos deste presente vão fincar para um futuro melhor para nossa população, nosso país e nossa sociedade”, disse.

O pronunciamento aconteceu na mesa de encerramento “Violência política de gênero e raça: Participação política das mulheres negras e democracia” em que Anielle participou ao lado de Lígia Batista, Talíria Petrone e Fabiana Pinto. Robeyoncé Lima e Áurea Carolina apresentaram questões sobre a interseccionalidade da violência política enfrentada por mulheres negras, a importância de sua participação política e seu impacto na construção de uma democracia verdadeiramente inclusiva.

A advogada Robeyonce destacou a importância de seguir o exemplo do Congresso do México, onde 50% das cadeiras parlamentares são ocupadas por mulheres. Lima ressaltou a necessidade de uma articulação em rede para proteger essas mulheres, reconhecendo que a violência política não começa apenas dentro das instituições, mas desde o período de campanha, quando enfrentam ameaças de morte, xingamentos virtuais e até mesmo ataques presenciais. Robeyonce enfatizou que o Estado e a sociedade têm a responsabilidade de proteger as parlamentares negras que desejam trabalhar pelo bem comum, pois segundo ela “não tem como articular ou transformar a política recebendo ameaças de morte”.

O último dia de seminário (22) ainda contou com o lançamento de uma placa com o rosto de Marielle Franco na Concha Acústica da UERJ. Marinete Silva, Lígia Batista e Anielle Franco falaram sobre a importância dessa homenagem em um espaço educativo que dialoga com o legado de Marielle e com as ações do Instituto que leva seu nome.

 

Foto: Reprodução: Instituto Marielle Franco