Na última segunda-feira (27), a Patrulha Rural da Polícia Militar de Mato Grosso agiu com grave violência contra trabalhadores sem terra do Acampamento União Recanto Cinco Estrelas. Cerca de 74 famílias ocupavam desde a madrugada de domingo para segunda-feira (27), parte da Fazenda Cinco Estrelas, de propriedade da União. Pelo menos 12 trabalhadores sem-terra foram detidos sem ordem judicial, além da defensora pública Gabriela Beck e agentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

O local da ocupação corresponde a área onde o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) criou o Projeto de Desenvolvimento Sustentável Novo Mundo, localizado no município de Novo Mundo, Gleba Nhandú, norte de Mato Grosso. Conforme informações da CPT, as famílias que fazem parte do acampamento, sendo aproximadamente 200 pessoas, incluindo 50 crianças, viveram por 20 anos debaixo de lona, na beira das estradas, em situação de extrema vulnerabilidade. Elas não possuíam, portanto, acesso aos direitos mais básicos, como água potável, moradia digna e atendimento de saúde.

“Por duas décadas, as famílias vêm sofrendo com intoxicação por agrotóxicos, utilizados pelo grileiro da área como arma química contra as famílias, afetando diretamente a saúde dos acampados, principalmente das crianças e idosos”, afirma a CPT em nota. A coordenadora da entidade em Mato Grosso, Kamila Picalho, também foi detida, além do agente Padre Luís Cláudio, da Prelazia de São Félix do Araguaia, e o agente Valdir Seze.

Foto: Divulgação / CPT

Antes da invasão policial, a CPT MT havia publicado uma nota expressão o temor das famílias com a iminente violência. Horas após a publicação da nota, os temores se mostraram realidade. “Após a ação de ocupação, as famílias sofreram violência por parte de guaxebas (jagunços) do grileiro da área, que tentaram expulsar os trabalhadores com o uso de um trator” informou a CPT, emnova nota.

A Comissão Pastoral da Terra informou também que além da truculência, a patrulha realizou uma série de abusos contra as mulheres, além de violência física contra os trabalhadores e a apreensão arbitrária de seus celulares. “Enquanto a terra não for destinada para o assentamento das famílias que lutam e resistem há mais de 20 anos, a violência tende a se agravar ainda mais, colocando em risco as vidas das pessoas” alerta.

O governador Mauro Mendes (União) sancionou lei 12.430/2024 de autoria do deputado estadual Cláudio Ferreira (PL), o paisagista, que cria sanções aos invasores de propriedades privadas rurais e urbanas no Estado de Mato Grosso.

“Essa proposta vem ao encontro dos compromissos que assumi ao entrar para a política, como a defesa da liberdade e do direito de propriedade”, disse o deputado.

Na prática, a lei beneficia grandes fazendeiros e latifundiários que acumulam terras, muitas vezes improdutivas, e criminaliza movimientos sociais que lutam pela reforma agrária.