Sem derrubar uma árvore, indígenas Wai Wai em Roraima fazem da castanha sua principal fonte de renda
No meio da floresta Amazônica, imponentes castanheiras dão frutos que sustentam dezenas de famílias do povo Wai Wai.
Com informações do Portal Amazônia e G1 Roraima
Localizadas em São João da Baliza, região Sul de Roraima, as Terras Indígenas Wai Wai e Trombetas Mapuerado dão o exemplo de extrativismo sustentável. Sem derrubar uma árvore, dezenas de famílias do povo Wai Wai, colhem os ouriços que caem das castanheiras e comercializam para diferentes regiões do Brasil. Esse ouriço é um fruto de formato esférico, com 11 a 14 cm de diâmetro, com peso variável entre 700 e 1.500 grs. Dentro de cada um deles pode conter de 11 a 22 amêndoas ou castanhas graúdas.
Depois de colher os frutos do chão, ali mesmo, no meio da floresta, os indígenas quebram os ouriços, retiram as castanhas e as embalam em sacos de fibra para o transporte de volta à comunidade. Chegando lá, os frutos são armazenados em galpões e em seguida embalados. Finalizado esse processo, é chegada a hora de comercializar os frutos, etapa que também é protagonizada pelos próprios indígenas, por meio de três associações: Associação dos Povos Indígenas Wai Wai (APIW), Associação do Povo Indígena Wai Wai Xaary (APIWX) e Associação Indígena Wai Wai da Amazônia (AIWA).
O protagonismo dos indígenas na comercialização das castanhas faz com que não seja necessária a presença de atravessadores, que até um passado recente compravam o fruto com um preço menor e repassavam para empresas interessadas com um valor muito maior. Além disso, a não necessidade de atravessadores garante maior autonomia e lucro para os Wai Wai. Agora, os indígenas podem firmar contratos direto com as empresas e até emitir nota fiscal.
Inicialmente, para que os indígenas começassem a comercializar o próprio trabalho, houve orientação da Fundação Nacional do Índio (Funai) e, atualmente, esse trabalho é feito pelo Instituto Socioambiental, que busca orientá-los acerca do mercado comercial. De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), em 2020, 65 toneladas de castanhas foram comercializadas pelos Wai Wai, por meio de contratos que chegaram a R$ 300 mil. No ano passado, houve uma baixa na produção motivada pelo clima atípico e o fenômeno La Ñina. Mas, em 2022, previsão é que 200 toneladas de castanhas sejam vendidas.
O trabalho da colheita das castanha é realizado entre os meses de abril e agosto, período de chuvas na região e envolve homens, mulheres e crianças. Na comunidade Xaary, são 140 indígenas associados. Na comunidade Anauá, na mesma região, a venda da castanha envolve 318 pessoas.
Para os indígenas Wai Wai, a castanha representa não apenas a cultura preservada ao longo de anos, mas também simboliza sustento, recomeço diário e esperança de dias melhores.