Sem apoio do governo, agricultura familiar perde produtos enquanto populações passam fome
De um lado, famílias de trabalhadores informais das cidades brasileiras não conseguem se alimentar adequadamente durante a pandemia do novo coronavírus. Do outro, no campo, quilos e quilos de alimentos agroecológicos perdidos.
De um lado, famílias de trabalhadores informais das cidades brasileiras não conseguem se alimentar adequadamente durante a pandemia do novo coronavírus. Do outro, no campo, quilos e quilos de alimentos agroecológicos perdidos.
Sem uma rede de logística estruturada e com cortes sucessivos em políticas voltadas à agricultura familiar – à exemplo do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) – e em meio ao isolamento social, camponeses não conseguem realizar as entregas de sua produção ao supermercados ou comercializá-las em feiras. Com a pandemia e o fechamento das escolas, as compras para a alimentação dos alunos por meio do Programa Nacional de Alimento Escolar (PNAE) também foram drasticamente reduzidas. As cestas básicas determinadas pelo governo do estado para atender as famílias das crianças mais vulneráveis, única demanda que os pequenos produtores ainda possuem, deixa de fora produtos importantes para uma nutrição adequada da população brasileira.
Segundo alerta o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a situação que se repete em todo o Brasil seria completamente diferente se o governo desse as respostas necessárias para os produtores. A regulamentação para a execução de R$ 500 milhões para o PAA, por exemplo, anunciada por Tereza Cristina, ministra da Agricultura, no dia 8 de abril, só foi autorizada na última segunda-feira (27), quase 20 dias depois. O valor da Medida Provisória 957/2020, assinada por Jair Bolsonaro e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda é considerada insuficiente frente à demanda no enfrentamento ao coronavírus. Os pequenos agricultores defendem uma proposta de Plano Safra emergencial em resposta à calamidade pública em que vivemos, que prevê um investimento de R$ 54 bilhões ao longo de 14 meses e aponta a necessidade de formação de estoques de alimentos.
A centralidade do Plano é a produção de alimentos saudáveis para atender a população urbana que é quem vai mais sofrer. Para além de sofrer com a própria pandemia, vai sofrer com a fome. Já vem sofrendo. A pesquisa divulgada pelo Data Favela no fim do mês de março alertava que, sem ações específicas, 86% dos moradores das favelas brasileiras irão passar fome por causa do coronavírus.
Enquanto milhões de toneladas de alimentos da agricultura familiar estão sendo perdidos por falta de apoio do estado, o agronegócio segue sendo privilegiado. O setor é considerado como atividade essencial em meio à crise e na última semana foi agraciado com a renovação de R$ 6 bilhões em isenção para agrotóxicos em alguns estados brasileiros. Lembremos que o agronegócio não tem nenhum compromisso com a produção de alimentos para o povo brasileiro e sim com a produção de commodities para atender a demanda do mercado internacional.
A postura do atual governo demonstra que o compromisso dele é com a cadeia alimentar a favor dos produtos ultra processados e industrializados, com baixa qualidade nutricional, baseados em poucas variedades de sementes e legumes, em detrimento de uma produção agroecológica, sem agrotóxicos.
Com informações de Brasil de Fato.