Seleção perdeu a “malandragem” brasileira?
O país do futebol sofre com mais uma derrota nas quartas de final do Mundial e mostra que precisa se reencontrar
Por Mizpá Mariano Barros
A história do futebol no Brasil vai muito além de técnica, estratégia e tática de jogo. O jeitinho brasileiro aparece dentro das quatro linhas no drible e na espontaneidade.
Isso porque a capoeira e o samba foram grandes aliados na implementação do esporte no Brasil. A ginga foi adaptada e atletas transformaram dança em jogadas para se livrarem dos marcadores.
Segundo Vitor Canale, “o futebol é um jogo insinuante, de dribles, sortilégios e surpresas, onde a chegada ao gol se dá, não pelos meios já instituídos, mas por inovações genuinamente nacionais, um saber brasileiro.”
Porém, cada vez mais, vemos uma padronização no futebol e o Brasil está deixando a qualidade que conquistou o mundo cinco vezes. Durante a Copa, a Canarinho teve uma taxa de dribles de 6.4 por partida, inferior a França que apresenta um percentual de 8.7.
A falta da “arte do engano”, mencionada pelo jogador Felipe Luis em um programa de TV, marcou um setor ofensivo brasileiro estático com carência de criatividade e jogadas ensaiadas. E sem um aproveitamento nas finalizações, o Brasil deixou a desejar em mais uma copa como favorito.
A trajetória brasileira pela fase de grupo já mostrava isso. Contra Sérvia e Suíça, que possuem características e uma escola similares a Croácia, o Brasil já tinha sofrido para marcar gols e brilhar em campo. Só que quando não poderia mais falhar, a seleção não conseguiu se adaptar ao jogo croata, que lutava por apenas uma bola. E conseguiu.
A Croácia jogou da mesma forma. Marcação no meio-campo, contra-ataque rápido com a habilidade de Modric, Perisic e Kovacic. Habituada a jogos longos desde 2018 e calejada com prorrogação, a seleção europeia só esperava o tempo passar para apresentar a frieza dos pênaltis e a maestria do goleiro Livakovic.
Com um grande número de bons atacantes na convocação, estava claro que as defesas adversárias iriam se fechar e a marcação seria uma barreira que nossos atletas deveriam driblar. Isso aconteceu durante a Copa, os gols marcados pelo Brasil foram construídos e o último de Neymar mostrou que habilidade, criatividade e ginga não faltam para o ataque brasileiro.
Mas, os quatro minutos que destruíram o sonho do hexa deixaram explícito outras características que faltaram no jogo verde e amarelo: a manha e a retranca.
Algo comum no futebol nacional, o regulamento embaixo do braço, os chutes para fora, embasar as jogadas e segurar a bola na defesa nunca foram tão desejados pelo torcedor brasileiro, principalmente com o Tite.
O técnico que conquistou há dez anos o Mundial de Clubes com o Corinthians no 1 a 0 contra o Chelsea, em um esquema “retranqueiro”, pecou na defesa nos últimos minutos de jogo.
A convocação de Daniel Alves e de nove atacantes nunca foram tão questionadas, já que o técnico teve que improvisar na defesa, sem um substituto para Alex Telles, um Alex Sandro ainda contundido e um defensor já amarelado. Dentro de campo, jogadores mantêm o jogo ofensivo e uma tentativa falha do Brasil garante à Croácia viva na Copa com um contra-ataque rápido e um chute Petkovic, que com desvio, tirou Alisson da jogada.
O final da Canarinho na Copa de 2022 veio nas penalidades máximas e a sexta estrela não irá brilhar por, pelo menos, mais quatro anos.
O que a Argentina fez que o Brasil não conseguiu?
Diferente do Brasil que deixou os croatas jogarem, principalmente no meio-campo, o técnico argentino Lionel Scaloni colocou Enzo Fernández grudado em Luka Modric. Mesmo com mais posse de bola, a Croácia foi engolida pela Argentina com a troca de um atacante, Di Maria, pelo volante Paredes.
O jogo da semifinal entre os hermanos e a Croácia mostrou que drible leva a bola ao gol e é isso o que importa. A mudança tática, a efetividade argentina e o brilho de Messi e Julián Álvarez consagraram La Albiceleste.
O confronto entre Croácia e a surpreendente seleção marroquina pelo terceiro lugar aconteceu ontem (17) no Estádio Internacional Khalifa, ao meio dia no horário de Brasília. A seleção croata garantiu a terceira posição pelo placar de 2 a 1 em um jogo eletrizante. Os europeus saíram na frente e com menos de dois minutos, a seleção africana empatou. O golaço da vitória croata foi de fora da área com Orsic.
Já na disputa pela taça de campeão, a Argentina enfrentou a França neste domingo, às 12 horas, no Estádio Lusail. As duas seleções brigaram pelo tricampeonato. Le Blues não conseguiram nos penaltis contra o time latino-americano e Messi conquista sua medalha de primeiro lugar com a seleção argentina.
Messi e Mbappé disputaram não só a taça, mas também o Craque da Copa, artilharia e possivelmente, a Bola de Ouro. E outra vez, a história é marcada com mais um marco do ET. Messi se iguala a Maradona com uma Copa do Mundo e abre a disputa de ser o maior jogador argentino.
Texto produzido para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube