Por Kamily Rodrigues

Em tempos nos quais o empoderamento feminino é uma pauta constante, frases como “futebol não é coisa para mulher” ainda são ditas sem nenhum sinal de constrangimento. Mesmo com a regulamentação do futebol feminino no Brasil em 1983, o preconceito contra a atuação feminina nos mais variados esportes ainda existe.

Uma pesquisa realizada pelo Sage Journals, no Reino Unido, aponta que entre os torcedores de futebol, homens são maioria quando o assunto são atitudes abertamente misóginas, registrando 68%. Atitudes progressistas também estão fortemente representadas, 24%, mas não são tão comuns quanto às atitudes hostis e sexistas. O último lugar, com 8%, é ocupado por misóginos envergonhados, que mascaram suas atitudes preconceituosas.

Mas ainda há esperança por dias melhores! Diariamente as jogadoras da Seleção Brasileira estão se engajando na luta contra a misoginia e o machismo, em prol da igualdade de gênero. E o esforço tem dado resultados. Isso porque a Copa do Mundo 2023 será a primeira a contar com diária e premiação igual para mulheres e homens da seleção. “A CBF fez uma igualdade de valores em relação a prêmios e diárias entre o futebol masculino e feminino. Ou seja, as jogadoras ganham igual aos homens. Aquilo que eles recebem por convocação diária, as mulheres também recebem”, afirmou o presidente afastado da CBF, Rogério Langanke Caboclo, em entrevista concedida à CNN Brasil. 

A decisão foi tomada após a Copa Feminina de 2019, marcada pelo posicionamento da Rainha Marta Silva, a favor da igualdade de gênero. “Estamos globalmente comprometidos em alcançar a igualdade de gênero até 2030. Há muito a ser feito em tão pouco tempo”, destacou a atleta durante cerimônia do Comitê Olímpico na época. Eleita seis vezes a melhor jogadora de futebol do mundo, Marta é uma das quatro embaixadoras do esporte na ONU em defesa da igualdade de gênero desde 2018, se tornando a primeira mulher latino americana a receber o título. 

Futebol feminino no Brasil: uma história marcada pelo machismo

Historicamente, a prática do futebol por mulheres é mal vista em solo brasileiro. No final do século XIX, período em que as mulheres começaram a jogar futebol em solo brasileiro, os homens já haviam se popularizado na modalidade. Assim, o futebol passou a ser visto como um esporte violento e como um símbolo de força e virilidade masculina. 

Naquela época, mulheres que praticavam o esporte eram julgadas pela forma grosseira e inadequada de agir. E como consequência da insistência em jogar futebol, Getúlio Vargas criou em 1941, durante o Estado Novo, o Decreto 3.199/41 que trazia, no artigo 54, o seguinte trecho: “às mulheres, não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”.

Matéria no jornal “O Imparcial”, em 1941, sobre futebol feminino – Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil

E não para por aí! Como o documento não mencionava quais eram as modalidades esportivas, no auge da ditadura militar, em 1965, um novo decreto foi sancionado para coibir a prática do futebol ou quaisquer esportes violentos entre mulheres. Nele constava que “não é permitida a prática feminina de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo, halterofilismo e beisebol”. 

Ou seja, há pouco mais de 40 anos, uma mulher que ousasse jogar futebol estaria infringindo a lei. As proibições só foram revogadas em 1979 e o esporte só foi regulamentado em nosso país em 1983. Fator determinante para a desvalorização do futebol feminino até os dias atuais. 

Superação e empoderamento feminino

Apesar de todos os obstáculos impostos pelo patriarcado, as atletas da Seleção Brasileira se destacam e incentivam outras meninas a jogarem futebol. Confira algumas delas!

Debinha

Uma das grandes ídolas da seleção, a artilheira foi indicada ao prêmio de melhor jogadora este ano pela FIFA (Fédération Internationale de Football Association). Colecionando reconhecimentos, a jogadora foi eleita a melhor jogadora da decisão pelo prêmio Most Valuable Player (MVP) em 2019, quando se destacou na Copa, inspirando outras mulheres a se tornarem referência no futebol.

Formiga 

Mulher negra e dona de uma das maiores carreiras da história do futebol feminino, a meio campista é exemplo de representatividade dentro da equipe, tendo participado de quase todas as gerações da seleção, desde o seu crescimento no início da década de 90. Ainda que atualmente tenha se aposentado da seleção, ela continua sendo inspiração para as novas gerações.

Marta 

A rainha do futebol lançou a marca de roupa “Go Equal” na Copa para incentivar mulheres no esporte. A intenção é dar continuidade ao legado que ela construiu em campo, promovendo mais espaço para as mulheres dentro das quatro linhas.“O que nós queremos aqui é incentivar que mais mulheres pratiquem esportes”, ressaltou durante entrevista para a CNN Brasil. A primeira coleção da marca de roupas esportivas será comercializada no site e aplicativo da Centauro, e no site do Studio78.

 

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Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube